Pesquisador do Inpa receberá 9º Prêmio Behler de Conservação de Tartarugas nos EUA

Foto: Acervo do pesquisador Richard Vogt

11/07/2014

O prêmio é concedido anualmente para homenagear estudiosos no campo da tartaruga de água doce pelos trabalhos relevantes de conservação dessas espécies

O pesquisador e estudioso em quelônios Richard Carl Vogt, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), receberá no próximo dia 7 de agosto o 9º Prêmio Behler de Conservação de Tartarugas, a ser entregue em Orlando, estado norte-americano da Flórida. A premiação é resultado do trabalho de pesquisas e conservação de tartarugas de água doce desenvolvido por Vogt, nos últimos 45 anos, nos Estados Unidos (EUA), México e Brasil.

O prêmio é concedido anualmente para homenagear estudiosos da tartaruga de água doce e reconhecer os trabalhos relevantes de conservação feitos com as espécies. A indicação é feita em conjunto com Aliança de Sobrevivência das Tartarugas, da União Internacional para a Conservação da Natureza/Grupo de Especialistas em Jabutis e Tartarugas de Água Doce, da Turtle Conservancy e do Fundo de Conservação da Tartaruga. 

John L. Behler (1946-2006) foi um naturalista norte-americano, herpetólogo (estudioso de répteis e anfíbios), autor e ativista conhecido por seu trabalho na conservação de espécies ameaçadas de tartarugas, cobras e outros répteis. Atuou de 1976 a 2006 como curador de répteis e anfíbios, do Zoológico do Bronx, em Nova York (EUA). Foi membro-fundador da Aliança de Sobrevivência das Tartarugas, que hoje financia o Prêmio Behler. Por isto, o trabalho de conservação de tartarugas aquáticas e terrestres leva o nome dele.

Pesquisas 

Entre as pesquisas relevantes desenvolvidas por Richard Vogt, doutor em Zoologia pela Universidade de Wisconsin (Madison, Estados Unidos), está a descoberta em 1979, juntamente com James J. Bull, pesquisador e professor da Universidade do Texas, em Austin (EUA), de que a determinação do sexo das tartarugas se dá pelo tempo de incubação dos ovos de acordo com a temperatura. Os pesquisadores comprovaram que a incubação no sol a uma temperatura acima de 33 graus nasce fêmea e em menos de 30 graus (à sombra) nasce macho.

Em 2012, Vogt e a então doutoranda do Inpa, Camila Ferrara, foram os primeiros pesquisadores a comprovar que há comunicação acústica entre as tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa) e que os sinais sonoros começam a ser utilizados pelo grupo ainda dentro do ovo. Além disso, eles também comprovaram, em 2014, que as tartarugas mantêm um comportamento de cuidado parental entre mães e filhotes, que migram juntos por mais de 75 quilômetros pelos rios. 

Ameaça

Das 16 espécies existentes na Amazônia brasileira, o pesquisador Vogt destaca que a tartaruga-da-amazônia é a mais ameaçada por conta do consumo da carne e pelo grande interesse econômico. Segundo o pesquisador, apesar da existência de inúmeros projetos em conservação, a fiscalização por parte dos órgãos fiscalizadores e a implantação de criadouros legalizados (criação em cativeiro), a ameaça continua contra essa espécie.

“Tem gente que pensa que tartaruga é para servir de comida para o homem, mas, na verdade, o lugar das tartarugas é na natureza para servir de proteína, em forma de ovos e filhotes, para outros animais (lontras, ariranhas, jacarés, pássaros e muitos peixes) que precisam dessa fonte de alimento para sobreviver”, defende o pesquisador.

Para Vogt, uma das maneiras de equilibrar o problema, em se falando de economia, são as fazendas legalizadas de tartarugas que criam essas espécies em cativeiro para desestimular o comércio ilegal nos grandes centros urbanos, por meio da oferta autorizada de quelônios. Em rápida procura pelos restaurantes de Manaus, o prato a la carte de sarapatel de tartaruga com os acompanhamentos para duas pessoas pode custar até R$ 120 aproximadamente. 

“Existem boas fazendas em Manaus e Rio Branco (Acre), e esse sistema é a melhor forma de criar e vender essas espécies adultas legalmente para o consumo”, diz o pesquisador. “O problema é que às vezes o homem quer levar tudo da natureza para vender na cidade. Ao invés de adquirir no mercado negro, é melhor comprar nessas fazendas, pois no mercado no ilegal, os quelônios muitas vezes são roubados de reservas, levando as fêmeas adultas, que são matrizes reprodutoras e que vivem cerca de 60 a 80 anos. E isso causa enorme prejuízo à natureza e danos a essa população”, complementa.

Vogt conta que, em 1890, Tefé (AM) possuía a maior população de tartarugas do Brasil e, hoje, essa população, no rio Solimões, “praticamente acabou”. “Na Reserva de Mamirauá, que fica no município de Tefé, por exemplo, existem somente 25 fêmeas desovando”, afirmou.

Proteção

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) mantém o Projeto Tartarugas da Amazônia para proteger os tabuleiros de desova (praias utilizadas pelas tartarugas para desova) a fim de manter a população de tartarugas. Segundo Richard Vogt, este é o maior programa do mundo de conservação de tartarugas da água doce. 

“Nenhum outro país chega a 5% do que o Brasil está investindo em dinheiro e recursos humanos na proteção dessas espécies. O Brasil é o único país que sabe o valor dessas espécies e está ajudando na conservação dessas populações. Sem o trabalho do ICMBio e do Ibama, as tartarugas da Amazônia sumiriam do mapa, mas agora são listadas internacionalmente como em perigo de extinção”, afirma Vogt.

O Projeto Tartarugas da Amazônia atua em parceria com o Inpa, Associação de Ictiólogos e Herpetólogos da Amazônia, Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Um dos objetivos do projeto é ampliar ainda mais os estudos científicos desenvolvidos com cinco principais espécies: Podocnemis expansa (tartaruga-da-amazônia), Podocnemis unifilis (tracajá), Podecnemis erythrocephala (irapuca), Podecnemis sextuberculata (pitiú) e o Peltocephalus dumerilianus (cabeçudo).

Parcerias

As pesquisas desenvolvidas pelo pesquisador Vogt recebem apoio do Inpa e de outras fontes financiadoras, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Boticário, Conservation International, WWF, Wildlife Conservation Society e, mais recentemente, da Petrobras.

Exposição de tartarugas vivas

Para Richard Vogt, a maior realização dele como pesquisador é o Centro de Estudos de Quelônios da Amazônia (Cequa), que trabalhará com pesquisas, conservação de tartarugas e educação ambiental. Desde 2001, o projeto é financiando pela Petrobras.

Construído numa área de 20 X 40 metros e localizado no Bosque da Ciência no Inpa, o prédio do Cequa está quase pronto e contará com exposições de tartarugas amazônicas vivas em ambientes de aquário com informações sobre a conservação, ecologia e biologia das espécies.

“É um projeto inédito e não existe no mundo nenhum outro centro nesse porte para conservação de tartarugas de água doce no mundo”, ressalta Vogt. 



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