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ONU DIZ QUE "FUTURO DAS AVES MIGRATÓRIAS É O FUTURO DA HUMANIDADE"

Pelicano branco. Foto: Unep/AEWA/Sergey Dereliev

13/05/2017

No Dia Mundial das Aves Migratórias, este 10 de maio, a agência ambiental das Nações Unidas busca um planeta saudável para os pássaros e para as pessoas.

Edgard Júnior, da ONU News em Nova Iorque.

A ONU Meio Ambiente alertou que as aves migratórias estão enfrentando um número crescente de ameaças durante longas viagens. A agência da ONU fez a declaração para marcar o Dia Mundial das Aves Migratórias, este 10 de maio.

Para escapar do frio nos Hemisférios Sul ou Norte, dependendo da época do ano, esses pássaros realizam voos intercontinentais com paradas específicas para que possam descansar e prosseguir a jornada.

Caça ilegal

Entre as ameaças, as aves enfrentam a perda de seu habitat natural, mudanças nas práticas de agricultura e principalmente a caça ilegal.

Nessa data, a ONU Meio Ambiente cita a necessidade da cooperação internacional para proteger os pássaros migratórios e seus habitats naturais para o benefício da humanidade.

O tema deste ano é: "O Futuro Delas é o Nosso Futuro – Um Planeta Saudável para Aves Migratórias e para as Pessoas" e ele está diretamente ligado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODSs.

A agência cita o exemplo da chamada pomba-tartaruga europeia, cuja população caiu 90% desde 1970 e está em risco de extinção.

No caso da perda do habitat natural no litoral Atlântico do continente Americano, houve uma redução de 80% nos pássaros chamados maçarico-de-papo-vermelho nos Estados Unidos, desde 2000.

Fonte: Rádio ONU

DIA DA TERRA: FILÓSOFO HOLANDÊS ESCREVE CARTA À HUMANIDADE



22/04/2017

Koert van Mensvoort, filósofo holandês – fundador da Next Nature Network e membro da ‘Next Nature’ na Universidade de Tecnologia em Eindhoven – escreveu uma ‘Carta para a Humanidade’ em apoio ao Dia Internacional da Terra, comemorado no dia 22 de abril. Em sua carta, ele convoca a humanidade a evitar se tornar escrava e vítima de sua própria tecnologia, mas empregar a tecnologia para aprimorar a raça humana.

Sua carta está endereçada a todas as 7 bilhões de pessoas na Terra. Ela foi traduzida em 25 idiomas de todo o mundo e está endossada por embaixadores internacionais como o astronauta André Kuipers, o filósofo Bas Haring, o designer Daan Roosegaarde, o apresentador da National Geographic Jason Silva e a professora de arquitetura experimental Rachel Armstrong.

Na carta, Van Mensvoort descreve como o homem entrou em uma nova fase evolucionária e que, além de criar a biosfera, atualmente também criou a suposta tecnosfera. De acordo com ele, seu impacto é semelhante à evolução dos animais há 500 milhões de anos. “Sua presença está transformando a face da Terra de maneira tão profunda que ainda será evidente daqui a milhões de anos”, escreve ele.

De acordo com ele, o Homem está numa encruzilhada e pode fazer com que sua relação com a tecnologia se transforme num sonho ou num pesadelo. No cenário do pesadelo, a tecnologia possui um efeito parasita nos seres humanos e nos tornamos a primeira espécie a causar seu próprio fim. No do sonho, a tecnologia humana está baseada nas necessidades humanas como ponto de partida e, na verdade, é usada para criar um mundo mais natural. O último caminho é recompensador para a humanidade bem como para todo o planeta.

Koert van Mensvoort é filósofo, artista e membro da ‘Next Nature’ na Universidade de Tecnologia em Eindhoven. Ele é o fundador da Next Nature Network, uma fundação que explora e visualiza até que ponto estamos rodeados por uma tecnologia que está se tornando nossa ‘next nature’. Essa rede internacional agora possui membros em vinte países.

A carta em português pode ser lida em http://lettertohumanity.org/portugues/ ou abaixo.

Carta à Humanidade

Querida Humanidade,

Parece estranho escrever-te uma carta, admito. As cartas são geralmente dirigidas a um indivíduo ou a um grupo limitado de pessoas. Não é habitual escrever para a humanidade como um todo. Tu nem tens um endereço postal, e eu duvido que recebas muita correspondência. Ainda assim, pensei que estava na hora de te escrever.

Obviamente, eu compreendo que não posso chegar completamente a todos – porque a humanidade não só consiste em cada pessoa que está viva agora, mas também em todos os que já viveram. São 107 mil milhões de pessoas. E depois há todos os outros que ainda não nasceram – espero que haja muitos deles. Voltarei a isso mais tarde, mas antes de falar sobre o futuro, gostaria de olhar para trás.

Fizemos um longo caminho, querida humanidade.

Nenhum outro animal moldou os seus arredores tão completamente como tu. Começou há algum tempo, há cerca de 200.000 anos atrás. Naquela época, não existia nenhum prémio Nobel por ter a brilhante ideia de usar peles de animais para manter o calor, ou controlar o fogo, ou inventar a lança ou o sapato. Todas estas foram invenções excecionalmente inteligentes que não apenas te permitiram sobreviver no teu indisciplinado habitat natural original, como também te permitiu moldá-lo à tua vontade e dominá-lo.

Os seres humanos nem sempre foram tão poderosos. Durante muito tempo, foste uma espécie marginal, sem importância, localizada nalgum lugar no meio da cadeia alimentar, sem mais controlo sobre o teu ambiente do que os gorilas, borboletas ou alforrecas. Mantiveste-te vivo principalmente colhendo plantas, apanhando insetos, perseguindo pequenos animais e comendo carcaças deixadas por predadores muito mais fortes, com os quais viveste em constante medo.

Sabias que há mais variação genética no grupo de chimpanzés normal do que há entre os 7 mil milhões de pessoas que vivem na Terra hoje? Os pesquisadores acreditam que isso ocorre porque os seres humanos quase se extinguiram uma vez e a população global de hoje descende de alguns sobreviventes. Esse facto obriga-nos a sermos modestos. Na realidade, é um milagre estarmos aqui.

Fisicamente, em comparação com muitos animais, os seres humanos são criaturas surpreendentemente frágeis. Que outro animal entra no mundo nu, gritando e relativamente desamparado, presa fácil para qualquer predador que apareça? Um cordeiro recém-nascido pode andar dentro de algumas horas; uma criança humana leva cerca de um ano para ficar sobre os seus próprios dois pés. Outros animais têm sentidos específicos, órgãos e reflexos que lhes permitem sobreviver em ambientes específicos, mas tu não estás naturalmente equipado para qualquer habitat em particular. No entanto, esta fraqueza aparente também provou ser uma força, permitindo-te a propagação da savana até ao Polo Norte, ao fundo do oceano e à Lua! Essa é uma conquista única.

Algumas pessoas até pensam que devias ir além da terra e povoar o universo. Por si mesmo, essa é uma ótima ideia, mesmo que seja para evitar que sejas destruído algum dia quando um meteorito maciço atingir o planeta. Isso seria uma vergonha. Para ser honesto, porém, penso que é um pouco cedo para procurares refúgio noutros mundos. Primeiro, vamos tentar resolver alguns problemas no nosso planeta natal. Porque tem que ser dito que a tua presença na terra causou problemas: aquecimento global, desflorestação, plástico nos oceanos, radiação ionizante, biodiversidade em declínio. É o suficiente para fazer uma pessoa deprimida. Às vezes parece que fazes mais mal do que bem!

Muitas vezes encontro pessoas que acreditam que o planeta seria melhor se não estivesses aqui. Espero não te ofender dizendo isso, querida humanidade, mas sinto-me obrigado a dizer-te que há aqueles entre nós que desconfiam de ti, olham para ti com desprezo ou simplesmente não gostam de ti porque pensam que estás a arruinar o planeta. Eu apresso-me a acrescentar que eu não sou um deles. Eu sempre tive dificuldade em entender tal misantropia, porque, em última análise, é uma forma de ódio próprio.

De onde vem essa desconfiança da humanidade? Numa investigação mais aprofundada, descobri que os infetados com ela têm uma imagem particular da humanidade que, na minha opinião, é completamente incorreta: eles vêem-na como uma espécie antinatural, que não pertence verdadeiramente à natureza romântica, bela e harmoniosa. Creio que este é um preconceito ingénuo que não nos ajudará a avançar, e devemos livrar-nos dele o mais rápido possível. Para entender essa ideia, precisamos de começar no início.

A Terra surgiu há mais de 4,5 mil milhões de anos. No início, não passava de uma pedra solitária no espaço, e levou mais de mil milhões de anos até que a biosfera do planeta se começasse a formar. Depois disso, levou cerca de 2 mil milhões de anos mais para as primeiras plantas multicelulares evoluírem. Outros mil milhões de anos depois, durante a explosão Cambriana, surgiu no planeta um tipo de vida completamente novo: os animais.

Os primeiros animais surgiram em cena há 500 milhões de anos. Não sabemos como as plantas, que já existiam há cerca de mil milhões de anos, sentiram o surgimento dos animais. Como sabes, as plantas gostam de ser deixadas em paz; Elas não se movem muito e retiram sustento do sol e do solo. Agora, eu não sei o que as plantas pensam, uma vez que eu não posso falar com elas, mas não me parece impossível que elas tenham achado agitado e desconfortável ter que aturar os animais ao seu redor. Talvez até tenham visto os animais como antiéticos, não apenas porque fundamentalmente não tinham raízes e viviam num ritmo inimaginável, mas mais porque faziam algo que naquela época era completamente novo, nunca visto e abominável: os animais comiam plantas.

Tudo considerado, a chegada dos animais pode não ter sido muito divertida para as plantas. A evolução é incessante, porém, e embora uma terra povoada apenas por plantas estava bem como estava, também era um pouco maçador, ou no mínimo, menos emocionante do que uma que continha animais também (eu vou poupar-te a uma descrição de como era no tempo em que a terra não tinha plantas, apenas pedras, o que era ainda mais maçador).

Então, de volta para o papel da humanidade. Assim como o surgimento dos animais abalou o mundo vegetal, a tua chegada também causou problemas. Lembra-te, acabaste de chegar aqui. Os animais existem há cerca de 2.000 vezes mais tempo que os humanos, e a vida vegetal simples há mais de 7.000 vezes mais tempo. Mas eu não estou a dizer isso para te obrigar à modéstia, porque eu penso que és incrível.

Embora sejas fundamentalmente uma espécie animal, há algo inteiramente único sobre ti, que tem menos a ver com a construção física humana – que, como eu disse, é menos do que impressionante – e mais com a tua tendência inerente para usar a tecnologia. Enquanto outras espécies de animais industriosos transformam os seus arredores – pensa em tocas de castor e montes de térmitas – nenhum deles o faz tão radicalmente como tu. Estou a usar a palavra “tecnologia” no sentido mais amplo: por “tecnologia”, quero dizer todas as formas como o pensamento humano tem um impacto no mundo que nos rodeia – roupas, ferramentas e carros, mas também estradas, cidades, alfabeto, redes digitais, e até mesmo empresas multinacionais e o sistema financeiro.

Desde que nasceste, estás a construir sistemas tecnológicos para te libertares das forças voluntárias da natureza. Começou com um teto sobre a tua cabeça que te protegeu de uma tempestade e tem prosseguido todo o caminho até às drogas modernas para o tratamento de doenças mortais. Tu és tecnológica por natureza. Mas como um peixe que não sabe que está a nadar na água, tendes a subestimar o quão intimamente a tua vida está entrelaçada com a tecnologia e quanto é feito para ti. Olha para a esperança de vida, por exemplo. No início da tua existência, o ser humano médio não poderia esperar viver muito além da idade de 30 anos. Em parte por causa das elevadas taxas de mortalidade infantil, podias contar com a tua própria sorte se ficasses por aí o tempo suficiente para te reproduzires. Da perspetiva da Mãe Natureza, isso é inteiramente normal. Se vires um casal de patos com uma dúzia de patinhos a nadar atrás deles na primavera, não deves surpreender-te se existirem apenas dois, ou com sorte talvez três, restantes até ao fim do verão.

A tecnologia faz parte de nós, da mesma forma que as abelhas e as flores evoluíram para serem interdependentes. À medida que as abelhas apanham o néctar, elas ajudam as flores a reproduzirem-se, espalhando o seu pólen. Os seres humanos são dependentes da tecnologia, e vice-versa. A tecnologia precisa de nós para se espalhar e reproduzir. E a humanidade, que ajuda enorme tem sido nesse ponto! A tecnologia tornou-se tão omnipresente no nosso planeta que abriu um novo ambiente, um novo cenário, que está a transformar toda a vida na Terra. Uma tecnosfera – uma ecologia de tecnologias interativas que evoluiu após a tua chegada – desenvolveu-se em cima da biosfera existente. O seu impacto sobre a vida na Terra dificilmente pode ser subestimado e é comparável, e talvez ainda maior, ao do aparecimento dos animais há 500 milhões de anos.

De uma perspetiva evolucionária, tudo isso é o habitual. A natureza baseia-se sempre nos níveis de complexidade existentes: a biologia baseia-se na química, a cognição baseia-se na biologia, o cálculo baseia-se na cognição. Mas do seu ponto de vista, é excecional. Não consigo pensar noutra espécie cuja presença tenha desencadeado uma nova fase evolucionária, libertando-se de uma evolução baseada em compostos de ADN, gene e carbono, com milhões de anos. Assim como o ADN evoluiu a partir do ARN, as tuas ações tornaram possível um salto para a evolução não genética em novos materiais, como chips de silício. Embora não tenha sido um ato consciente, as consequências não são menores. A tua presença transformou a face da Terra tão fundamentalmente que o impacto ainda será visível daqui a milhões de anos. Esta é a tua obra, mas, até agora, tu mal pareces tê-lo percebido, e muito menos foste capaz de tomar uma posição clara em relação a isso.

Agora, eu compreendo que isso está longe de ser uma tarefa simples, só porque tu, a humanidade, não és um único ser pensante, mas uma confusão de milhões de indivíduos, todos com os seus próprios pensamentos, necessidades e desejos, que não estão realmente equipados biologicamente para pensar a um nível planetário em larga escala. No entanto, parece-me ser a questão mais premente do momento. Tu estás numa encruzilhada. E é por isso que te estou a escrever.

No que diz respeito ao futuro, vejo dois caminhos possíveis ao longo dos quais podes desenvolver uma relação coevolucionária com a tecnologia: o caminho dos sonhos e o dos pesadelos. Vamos começar com os pesadelos. Toda a relação coevolucionária – seja entre abelhas e flores ou entre humanos e tecnologia – corre o risco de se tornar parasita. As relações parasitas, em contraste com as simbióticas, carecem de reciprocidade. Uma sanguessuga, uma ténia ou um cuco não devolvem nada ao seu hospedeiro; apenas tiram. Poderia a tensão que sentimos em torno da tecnologia ter algo a ver com isso? Apesar de usarmos a tecnologia desde tempos imemoriais, porque nos serve e estende as nossas capacidades, os seres humanos correm o risco de ser os que servem a tecnologia, de se tornarem um meio em vez de um fim, tornando-se hóspedes da tecnologia. Um exemplo pode ser visto na esfera farmacêutica. A medicação é, sem dúvida, uma tecnologia que salva vidas, mas quando as empresas farmacêuticas tentam maximizar os seus próprios números de crescimento, convencendo todos os que se desviam da média estatística de qualquer forma que ele ou ela tem uma doença e precisa do medicamento apropriado, temos que perguntar se eles estão realmente a servir a humanidade ou apenas a satisfazer as necessidades da indústria e dos seus acionistas.

Onde fica exatamente a fronteira entre as tecnologias que facilitam a nossa humanidade e aquelas que nos encaixotam e roubam o nosso potencial inato? O espectro final é que tu, a humanidade, acabas por te tornar nada mais do que o órgão sexual que um organismo tecnológico maior requer para se reproduzir e se espalhar. Formas de vida encapsuladas dentro de outras maiores podem ser encontradas noutras partes da natureza: por exemplo, pensa na flora intestinal que executa várias tarefas úteis dentro dos nossos corpos. Será que em breve não seremos mais do que os micróbios na barriga da besta tecnológica? Nesse ponto, a humanidade não será mais um fim, mas um meio. E eu não vejo isso como desejável, porque eu sou uma pessoa, e eu estou a jogar pela equipa da humanidade.

Agora para o sonho.

O sonho é que tu acordas e percebes que ser um humano não é um ponto final, mas um processo. A tecnologia não altera só o nosso ambiente, em última análise, altera-nos. As mudanças vindouras permitirão que tu sejas mais humano do que nunca. E se usarmos a tecnologia para ampliar as nossas melhores qualidades humanas e para nos apoiar nas nossas fraquezas?

Poderíamos chamar a essa tecnologia de humana, à falta de uma palavra melhor. A tecnologia humana tomaria as necessidades humanas como ponto de partida. Isso serviria os nossos pontos fortes, em vez de nos tornar supérfluos. Ela expandiria os nossos sentidos ao invés de os embotar. Seria sintonizada com os nossos instintos; pareceria natural. A tecnologia humana não só serviria os indivíduos, mas, em primeiro lugar, a humanidade como um todo. E por último mas não menos importante, iria perceber os sonhos que nós os seres humanos temos sobre nós próprios.

Então, com o que sonhas? Voar como um pássaro? Viver na Lua? Nadar como um golfinho? Comunicar pelo sonar? Telepatia com os teus entes queridos? Igualdade entre os sexos e as raças? A empatia como um sexto sentido? Uma casa que crescesse com a tua família? Queres viver mais? Talvez pudesses viver para sempre.

Ouve, humanidade: tu já foste uma espécie relativamente insignificante, mas os teus dias de infância acabaram. Graças à tua inventividade e criatividade, levantaste-te da lama da savana. Tornaste-te num catalisador evolucionário que está a transformar a face da Terra. Esse processo não está completo. Tu és uma dobradiça entre a biosfera de onde surgiste e a tecnosfera que surgiu após a tua chegada. O teu comportamento afeta não apenas o teu próprio futuro, mas o planeta como um todo e todas as outras espécies que vivem nele. Essa não é uma responsabilidade pequena.

Se não pensas que estás equipado para isso, devias ter ficado na tua caverna. Mas esse não é o teu estilo. Tens sido tecnológica desde o dia em que nasceste. O desejo de voltar à natureza é tão compreensível quanto impossível. Não só seria covarde diante do desconhecido, mas negaria a tua humanidade. Não podemos imaginar o futuro da humanidade sem pensar no futuro da tecnologia. Deves seguir em frente – mesmo que só agora tenhas chegado aqui. Tu és uma adolescente, mas está na hora de crescer. A tecnologia é o autorretrato da humanidade. É a materialização do engenho humano no mundo físico. Vamos fazer uma obra de arte de que nos possamos orgulhar. Vamos usar a tecnologia para construir um mundo mais natural e traçar um caminho para o futuro, que funcione não só para a humanidade, mas para todas as outras espécies, o planeta e, finalmente, o universo como um todo.

Para encerrar, eu gostaria de te pedir que faças algo. Gostaria de convidar cada um de vocês – vivendo e ainda não nascido, na Terra e noutros lugares – a fazer uma simples pergunta sobre cada mudança tecnológica que aparece na tua vida: isto aumenta a minha humanidade?

A resposta geralmente não será preto ou branco, sim ou não. Mais frequentemente, será algo como 60 por cento sim, 40 por cento não. E às vezes discordarás com outras pessoas e terás de debater o assunto antes de chegar a um acordo. Mas isso é bom. Se todos nós consistentemente optarmos por tecnologia que aumenta a nossa humanidade, eu sei que vais ficar bem. Como? Isso continua por ser visto. Ninguém sabe como serão os seres humanos daqui a um milhão de anos, ou se haverá até mesmo seres humanos, e se assim for, se eu os reconheceria como humanos. Vamos aceitar implantes? Reprogramação do nosso ADN? O dobro do tamanho do nosso cérebro? Comunicar telepaticamente? Brotaram asas? Eu não sei e não posso saber. Mas a minha esperança é que daqui a um milhão de anos ainda haverá uma coisa como a humanidade. Porque enquanto houver humanidade, haverá seres humanos.

Do núcleo da minha humanidade humilde e imperfeita, desejo-vos felicidade, amor e uma viagem longa e empolgante.

Na expectativa de que trarás triliões de pessoas mais, tudo de melhor,

Koert van Mensvoort

PS: Nota para o leitor individual: Depois de leres esta carta, por favor passa-a a um dos teus companheiros humanos. Se quiseres fazer mais, também podes copiar, traduzir, reimprimir e distribuí-la. A humanidade somos todos nós.

Sudão do Sul: faltam medicamentos por todo o país


Foto: Diana Zeyneb Alhindawi

10/04/2016

Carta aberta da Dra. Joanne Liu, presidente internacional de MSF

A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) expressa sua frustração ao constatar que, em um contexto já dramático de violência e deslocamentos prolongados, o alerta que fizemos há um ano para a comunidade humanitária e doadores não levou a nenhuma ação estrutural ou decisiva para evitar uma escassez a nível nacional de medicamentos essenciais no Sudão do Sul.

O conflito no Sudão do Sul já dura mais de dois anos, impactando fortemente sua população e, como sempre, colocando os mais vulneráveis em risco. Além dessa situação humanitária que já é terrível, uma emergência médica adicional e evitável está se desdobrando.

A interrupção do Fundo de Medicamentos de Emergência (EMF, na sigla em inglês) – programa que assegurava o financiamento, a aquisição e a provisão de medicamentos essenciais para todo o Sudão do Sul – agora gerou a escassez inaceitável e devastadora de medicamentos no país. Embora o cumprimento dos objetivos do programa tenha sido oficialmente repassado para o governo, quase não restam dúvidas de que não haveria condições de preencher essa lacuna em meio à crise contínua no país.

Esforços para prevenir o pior foram apenas temporários, sem que houvesse reconhecimento do impacto mais amplo dessa escassez massiva de medicamentos. Foram distribuídas e transferidas reservas de medicamentos, o que, no entanto, não impediu que nossas equipes testemunhassem a escassez na maioria das instalações de saúde primária em regiões onde trabalhamos. Por exemplo, em Aweil e no seu entorno, nós visitamos 42 unidades e centros médicos, dos quais 12 estavam completamente fechados e 23 já haviam tido de fechar e os pacientes estavam tendo de comprar seus medicamentos prescritos no mercado. Tudo isso foi agravado por um surto de malária que eclodiu no ano passado, quando tratamos mais casos graves da doença do que nunca, apesar das doações e distribuições de testes e tratamentos. Ainda assim, muitos pacientes chegaram em estágios avançados da doença por causa da falta de acesso a medicamentos básicos a nível local.

Embora previsíveis na época de nosso alerta, esses fatos agora estão refletidos e foram confirmados por mecanismos oficiais de informação. Ainda assim, nenhuma abordagem estrutural foi formulada para o futuro próximo, diante do fato de que a escassez de medicamentos agora é uma realidade em todo o país. Uma nova estação chuvosa está se aproximando rapidamente, prometendo novos surtos, bem como uma logística complicada. Essa não é uma situação que possa ser resolvida por um único ator isoladamente, mas parecem faltar esforços conjuntos.

Portanto, estamos novamente fazendo um apelo a todos os doadores, atores e autoridades para que se unam a fim de evitar uma crise médica completa, que está agravando ainda mais uma situação humanitária já terrível. A população não pode ter o acesso a medicamentos vitais negado. Se esses grupos não se unirem, a vida de milhares de pessoas estará em perigo e a parcela mais vulnerável desse país será novamente impactada desproporcionalmente, particularmente mulheres e crianças.

Após já ter abordado essas preocupações ao escrever para grandes doadores e após diversas reuniões bilaterais, eu me sinto compelida a reiterar nosso apelo publicamente, na forma desta carta aberta.

Dra. Joanne Liu

Presidente Internacional – Médicos Sem Fronteiras

ONU 70: "bandeira azul da ONU é a única que pertence a todos", diz Ban

Bandeira das Nações Unidas. Foto: ONU/John Isaac

24/10/2015

Declaração do secretário-geral está em sua mensagem sobre o Dia da ONU, celebrado neste sábado, 24 de outubro; organização completa 70 anos em 2015; monumentos em todo o mundo serão iluminados de azul como parte das comemorações.

Laura Gelbert, da Rádio ONU em Nova York.

Para marcar o Dia da ONU e o 70º aniversário da organização, celebrado em 24 de outubro, o secretário-geral afirmou que há apenas uma bandeira no mundo que pertence a todos: a bandeira azul das Nações Unidas.

Em mensagem sobre a data, Ban Ki-moon lembrou sua infância e declarou que a bandeira azul da ONU foi símbolo de esperança para ele crescendo na Coreia, em uma época de guerra.

Guia para Humanidade

O chefe da ONU destacou que sete décadas após sua fundação, a organização permanece como "um guia para toda a humanidade".

Ele lembrou que todos os dias, as Nações Unidas alimentam pessoas que passam fome e fornecem abrigo àqueles que foram forçados a fugir de suas casas.

Ban afirmou ainda que a organização também vacina crianças que, de outra forma, morreriam de doenças evitáveis. Ele declarou que "as Nações Unidas defendem os direitos humanos para todos, independente de raça, religião, nacionalidade, gênero ou orientação sexual".

Soldados de Paz

O secretário-geral lembrou que os soldados de paz da ONU estão nas linhas de frente de conflitos; seus mediadores levam combatentes à mesa da paz e seus trabalhadores humanitários enfrentam ambientes perigosos para entregar assistência vital.

Ban afirmou que "as Nações Unidas trabalham para toda a família humana, de 7 bilhões de pessoas", e cuidam do planeta, sua única casa.

Carta da ONU

Ele disse ainda que são os "diversos e talentosos" funcionários da organização que ajudam a tornar realidade a Carta da ONU", se referindo ao documento fundador das Nações Unidas, adotado em 1945, em São Francisco.

Para o secretário-geral, "os valores atemporais" da Carta devem permanecer como guia e que a responsabilidade compartilhada de todos é unir forças em prol do bem comum.

Sacrifício

Ban também ressaltou que este 70º aniversário é um momento para reconhecer a dedicação daqueles que servem à ONU e homenagear os muitos que "fizeram o sacrifício final em serviço".

Para marcar este aniversário, mais de 300 monumentos e prédios em mais de 75 países serão iluminados de azul, a cor oficial da ONU.

O secretário-geral pediu que nesta data seja reafirmado o compromisso com um futuro melhor e mais brilhante para todos.

Na Rádio ONU, você encontra uma página dedicada aos 70 anos das Nações Unidas com fotos, vídeos, matérias especiais e entrevistas.

Fonte: Rádio ONU


Sudão do Sul: um ano após assassinatos em massa em Bentiu, violência e deslocamentos continuam

Foto: Hosanna Fox/MSF

22/04/2015

MSF oferece cuidados de saúde e trabalha para garantir que as dezenas de milhares de pessoas em acampamento tenham acesso a água limpa

Sudão do Sul

Um ano após o assassinato em massa de civis na cidade petrolífera de Bentiu, no Sudão do Sul, que envolveu o abrigo de pessoas no hospital onde a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) administrava um projeto de HIV e tuberculose (TB), a violência e o deslocamento continuam e o acesso a cuidados de saúde básicos e alimentos permanece sendo um problema para as pessoas vivendo em áreas rurais.

Após os confrontos, MSF tratou mais de 230 pessoas com ferimentos à bala e milhares dos habitantes da cidade fugiram para a base das forças de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), cuja população aumentou de 6 para 22 mil pessoas em questão de dias. Passado um ano, o número de pessoas buscando proteção aumentou significativamente, e já são mais de 53 mil pessoas vivendo em um terreno de 1 km2 cercado por arame farpado e vigiado pelas tropas da ONU.

Inicialmente, as condições de vida no local eram ameaçadoras devido à superlotação e à falta de água e saneamento. A situação piorou durante a estação chuvosa do último ano quando o acampamento ficou completamente alagado. Com o nível da água acima do joelho, muitas pessoas se viram obrigadas a dormir em pé com seus filhos em seus braços. Muitos se afogaram. Desde que a estação da seca se estabeleceu, as condições no local melhoraram e diversas organizações de ajuda estão oferecendo serviços básicos para as dezenas de milhares de pessoas ali. MSF estruturou um hospital em tendas para oferecer cuidados de saúde secundária de qualidade e trabalhar para garantir que as pessoas tenham acesso a uma quantidade suficiente de água limpa e instalações sanitárias.

Oferecer assistência humanitária em uma base da ONU é algo feito por MSF em último caso. Como organização médica independente, imparcial e neutra, precisamos permanecer dissociados de atores políticos e militares. Mas diante de circunstâncias extraordinárias como essa, com alto nível de tensão e medo, é importante que as pessoas possam ter acesso a serviços médicos onde se sintam seguras.

MSF também está trabalhando do lado de fora do acampamento de “Proteção de Civis” da ONU, na medida em que a maioria das pessoas afetadas pelo conflito em andamento permanecem dispersas por regiões rurais de difícil acesso, sendo que muitas delas já se deslocaram múltiplas vezes por conta dos confrontos. MSF está operando clínicas móveis em Ding Ding, Nhialdiu e na própria cidade de Bentiu, concentrando esforços em atendimento ambulatorial básico e cuidados de saúde maternos. Avaliações das regiões do entorno continuam. As últimas a serem analisadas foram Nimni, na província de Guit, e Ngop, em Rubkona. Uma mulher de 28 anos de Ngop, cujo filho gravemente desnutrido foi hospitalizado por MSF em fevereiro, disse: “As pessoas sofreram muito com as enchentes, que destruíram toda a nossa plantação. Por isso, não há o que comer. Se você fica doente, não há lugar para onde possa ir. A instalação de saúde mais próxima que costumávamos frequentar antes da crise já não tem mais medicamentos”.

Nessas regiões rurais, particularmente, o conflito em andamento reduziu o acesso das pessoas a cuidados de saúde. É comum a falta de suporte e suprimentos médicos adequados em instalações locais. Frentes de batalha, movimentações militares, bombardeios e tiroteios causam medo às pessoas, que, assustadas, não se dispõem a caminhar longas distâncias até as poucas instalações de saúde ainda funcionais.

Bentiu, a antes vibrante capital do estado, tornou-se uma cidade das tropas, com a maioria dos comércios administrados por soldados do governo. Embora os corpos dos civis que tomavam as ruas tenham sido removidos, as carcaças dos veículos abandonados permanecem nas laterais da estrada. A maioria das casas da cidade foram incendiadas e não foram reconstruídas. Um controle remoto de TV derretido ou o estrado de uma cama de solteiro queimados são as únicas pistas do que antes havia ali. O moderno hospital da cidade, onde MSF oferecia cuidados para TB e HIV, foi saqueado, suas janelas e portas foram arrombadas, o equipamento médico e os medicamentos espalhados pelo chão. Infestado com morcegos e vermes, a instalação não está mais em uso, embora MSF conduza atividades da clínica móvel com foco em cuidados de pré-natal em um anexo, que foi limpo.

Na medida em que o conflito no Sudão do Sul continua, não há previsão de fim para a situação humanitária em Bentiu. A insegurança contínua, os confrontos e bombardeios ativos e a violência contra civis na vizinhança não deixam alternativa para as muitas pessoas deslocadas que hoje vivem no acampamento “Proteção aos Civis” que não seja permanecer ali, observando seu futuro previsível. A necessidade de assistência dessa população, em um local onde se sintam seguros, vai continuar.

Enquanto isso, MSF continua oferecendo cuidados médicos a mais de 100 mil pessoas na região do entorno de Bentiu. Mas garantir o respeito às instalações médicas e humanitárias, ao pessoal e aos pacientes, permanece sendo um desafio.


Fome e Crise humanitária na Somália

Menina somali aguarda pela sua vez para coletar água 

22/04/2015
  
Publicado por África Urgente, em 21 de março de 2014 

Somália é considerada um dos países mais pobres da África, lugar onde a fome e os conflitos crescem a cada dia que se passa. Devido à seca e a falta de ajuda alimentar cerca de 3,6 milhões de pessoas vivem sobre o risco de fome e algumas chegam até a morrer, a maioria delas são crianças que morrem devido à desnutrição, um problema que não se acaba, e ao passar dos anos vai ficando pior são centenas de somalis prejudicados com este problema, alguns deles vivem em acampamentos dentro e fora da capital de Mogadíscio. Por lá o  sofrimento e castidade são constantes um cenário de dor e muito sofrimento podemos ver todos os dias.

A taxa de mortalidade está crescendo a cada ano que se passa e a  grande e a  causadora de tudo isso é a fome. Entre maio de 2012 e agosto o número de mortes subiram para 258.000 pessoas somalis que morreram de fome, a mortalidade infantil da Somália  aumentou para 29 mil crianças e este numero tende a crescer todos estão vivendo em um estado de calamidade todos desnutridos fracos precisando de vitaminas e proteínas algumas desabrigadas sem ter onde ir, o maior numero de mortos estão de 133.000 todas  crianças com menos de 5 anos de idade.

Em media já morrem cerca de 300 crianças por dia, e 640 mil crianças somalis estão subnutridas, todas precisando de ajuda para sobreviver à fome na Somália foi provada por causa de uma grave seca no Chifre da África e foi piorando devido a falta de segurança no país que infelizmente está em guerra civil desde a queda do presidente Siad Barre em 1991 a cada ano que se passa a situação na Somália vai ficando pior milhares de famílias somalis estão doentes e desnutridas.



Cientistas buscam na Antártida a chave para o futuro da humanidade

23/02/2015

As chaves para responder às perguntas mais básicas da humanidade estão encerradas neste congelador continental do tamanho dos EUA mais a metade do Canadá: de onde viemos? Estamos sós no Universo? Qual é o destino de nosso planeta em aquecimento?

Os primeiros exploradores chegaram à Antártida há 194 anos, buscando riquezas do século 19 como peles e óleo de baleia e foca, tingindo com sangue as ondas do oceano. Desde então, o primeiro continente formado demonstrou ser uma arca de tesouros para os cientistas que tentam determinar tudo, desde a criação do cosmo até o quanto as águas se elevarão com o aquecimento global.

"É uma janela para o Universo e o tempo", disse a cientista Kelly Falkner, chefe do programa polar da Fundação Nacional para as Ciências dos EUA.

Durante cerca de 12 dias em janeiro, no meio do gelado verão antártico, a agência de notícias Associated Press acompanhou cientistas de diferentes áreas em busca de criaturas de forma alienígena, de pistas de contaminação presas no antigo gelo, restos do Big Bang, peculiaridades biológicas que pudessem conduzir potencialmente a melhores tratamentos médicos e, talvez o principal, sinais de um derretimento incontível. A travessia em um barco da marinha chilena ao largo das ilhas Shetland do Sul e da vulnerável península Antártica, que sai do continente como um dedo fraturado, foi de 1.340 quilômetros (833 milhas) e permitiu que a equipe da AP desse uma olhada em primeira mão neste continente vital.

A Antártida reúne imagens de montanhas silenciosas e brancas planícies, mas o mais frio, seco e remoto dos continentes não está adormecido. Cerca de 98% de sua superfície estão cobertos de gelo, o qual está em constante movimento. Sendo um vulcão ativo, a ilha Decepção é um cadinho de condições extremas. Há lugares onde o mar ferve a 100 graus centígrados, enquanto em outros pode estar abaixo de 0 grau. Embora o sol raramente brilhe nos escuros invernos antárticos, parece que a noite nunca chega nos dias de verão.

Os turistas vêm à Antártida por sua beleza e distância, mas para os cientistas tudo é trabalho. O que encontrarem poderá afetar a vida de pessoas a milhares de quilômetros de distância. Se os especialistas estiverem certos e a plataforma de gelo da Antártida ocidental já começou a derreter de maneira irreversível, o que ocorrerá aqui determinará se cidades como Miami, Nova York, Nova Orleans, Guangzhou, Mumbai, Londres e Osaka terão de combater de forma regular as inundações causadas pelo aumento do nível dos mares.

A Antártida "é grande e está mudando. Isso afeta o resto do planeta, e não podemos nos dar o luxo de fazer vista grossa ao que acontece lá", disse David Vaughan, diretor de ciência do Centro de Pesquisas da Antártida do Reino Unido.

Com frequência os cientistas encontram algo diferente do que procuravam. No ano passado, pesquisadores calcularam que o gelo no lado oeste do continente estava derretendo mais rápido que o previsto. No mês passado, cientistas que realizavam pesquisa geológica vital desse derretimento observavam 800 metros sob o gelo, na mais profunda escuridão, e tiveram uma surpresa: peixes de 15 centímetros de comprimento e criaturas semelhantes a camarões nadavam ao lado de suas câmeras.

Os geólogos estão fascinados pelos segredos da Antártida. Em uma recente expedição científica comandada pelo Instituto Antártico Chileno, Richard Spikings, um geólogo pesquisador da Universidade de Genebra, na Suíça, usou um enorme martelo para coletar amostras de rochas das ilhas Shetland do Sul e da península Antártica. Curiosos membros de uma colônia de pinguins no cabo Leogoupi observavam enquanto ele golpeava pedaços de granito preto e diorita que sobressaíam do mar meridional. Perto do fim da viagem de duas semanas, seus colegas começaram a chamá-lo de "Thor", em tom de brincadeira.

"Para compreender muitos aspectos da diversidade de animais e plantas, é importante entender quando os continentes se separaram", disse Spikings. "Assim, também estamos aprendendo sobre a verdadeira idade da Terra e sobre como os continentes estavam configurados há um bilhão de anos, há 500 milhões de anos, há 300 milhões de anos", comentou.

Ele acrescentou que essa compreensão o ajudará a entender o papel fundamental da Antártida no vaivém dos antigos supercontinentes. Com nomes como Rodinia, Gondwana e Pangea, os cientistas acreditam que eram enormes massas de terra que fizeram parte da história do planeta e que se uniam periodicamente com o movimento das placas.

Como não existe indústria local, qualquer rastro de contaminação preso no gelo e neve antigos provém de substâncias químicas que vieram de longe, como o chumbo que era encontrado no gelo até que foi eliminado da gasolina, ou os níveis de radiação de testes nucleares superficiais realizados a milhares de quilômetros e há muitos anos pelos EUA e a União Soviética, comentou Vaughan.

O gelo indica como os níveis de dióxido de carbono -- o gás que retém o calor na atmosfera -- variaram ao longo de centenas de milhares de anos.

É também o lugar onde um buraco na camada de ozônio, causado por gases refrigerantes e aerossóis feitos pelo homem, estaciona periodicamente por alguns meses e causa problemas. Ele surge quando a luz do sol volta à Antártida em agosto, provocando uma reação química que destrói as moléculas de ozônio e causa um buraco que alcança seu tamanho máximo em setembro. Ele se fecha com o clima mais quente em novembro.

Explorar a Antártida é algo que o chileno Alejo Contreras, 53 anos, começou a sonhar durante sua juventude, depois de ler o diário de Robert Falcon sobre sua travessia ao Polo Sul. Quando Contreras finalmente chegou ao Polo Sul, em 1988, deixou de fazer a barba, que agora alcança seu peito, e anda sem rumo fixo, como suas explorações.

A Antártida é "como o congelador do planeta", disse Contreras, que comandou 14 expedições ao continente. "E nenhum de nós se atreveria a sujar o gelo."

Devido à natureza virgem do extremo sul do mundo, quando um meteorito cai ali permanece intacto. Assim, os pesquisadores encontram mais meteoritos, muitas vezes do vizinho Marte, incluindo um descoberto há quase 20 anos que levou os cientistas inicialmente a pensar, de maneira incorreta, que haviam encontrado provas de que já houve vida em Marte. Este é um lugar com paisagens tiradas de um filme de ficção científica. A Nasa utiliza a localização remota do continente para estudar o que as pessoas teriam de enfrentar se visitassem Marte. O ar seco também é perfeito para que os astrônomos espiem o espaço profundo e olhem para o passado.

Durante uma viagem recente à ilha Decepção, Peter Convey, um ecologista do Centro de Pesquisas da Antártida do Reino Unido que visitou o continente durante 25 anos, suportou forte chuva, temperaturas congelantes e ventos de mais de 37 quilômetros por hora (20 nós) para coletar amostras de musgos esponjosos de cor verde e café, que crescem nas cinzas das montanhas de rocha negra da ilha vulcânica. Ele procurava chaves em sua genética para determinar o quanto a espécie havia evoluído na Antártida, isolada de outros continentes.

"Tive sorte e fui até a metade do continente, assim estive isolado do ser humano mais próximo por 400 ou 500 quilômetros", disse Convey. Nesse isolamento existem formas de vida raras, aumentando a esperança de que possa haver vida em outros ambientes extremos como Marte, o que inclusive há na atualidade, escondida sob o gelo da lua de Júpiter, Europa. "Este é um dos lugares mais extremos em que poderíamos esperar encontrar vida. E existe", indicou Ross Powell, um cientista da Universidade Northern Illinois, que em janeiro utilizou um submarino com controle remoto sob o gelo em uma parte diferente do continente, para decifrar o derretimento, quando viu peixes e crustáceos nadando ali.

Cerca de 4 mil cientistas chegam à Antártida para pesquisas no verão e cerca de 1 mil ficam para o duro inverno. Também há cerca de 1 mil pessoas alheias à ciência -- cozinheiros, motoristas, mecânicos, zeladores e o sacerdote da Igreja Ortodoxa mais meridional do mundo, situada no alto de uma colina rochosa na estação russa Bellinghausen. Mas a igreja na colina é uma exceção, um tênue raio de luz do mundo que existe ao norte. Para os cientistas, o que torna este lugar especial é o que há embaixo, que oferece uma janela para o passado e o futuro da humanidade.

"A Antártida, em muitos sentidos, é como outro planeta", disse José Retamales, diretor do Instituto Antártico Chileno, a bordo do barco da marinha que navega por Decepção e outras ilhas Shetland do Sul. "É um mundo completamente diferente."

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Fonte: UOL


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