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Síria: “Nós esperamos que o massacre termine”

Síria: “Nós esperamos que o massacre termine” - Foto: MSF

04/06/2016

Enfermeiro supervisor do hospital Al Salamah, evacuado no dia 27/05, fala sobre a situação no distrito de Azaz, de onde as frentes de batalha estão cada vez mais próximas

Yahya Jarad é supervisor de enfermagem do hospital Al Salamah da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Síria, tendo se formado em 2007 como enfermeiro pela universidade de Aleppo. Na última sexta-feira (27/05), MSF teve de evacuar os pacientes do hospital Al Salamah e fechar a instalação à medida que as frentes de batalha se aproximavam. Também devido a essa situação, cerca de 100 mil pessoas estão encurraladas no distrito de Azaz, no norte do país.

“Nós esperamos que a guerra acabe e o massacre termine. Mas parece que isso não vai acontecer tão cedo.”

Eu comecei a trabalhar em MSF em outubro de 2012, e tenho trabalhado como enfermeiro supervisor no hospital Al Salamah desde então. Em fevereiro do ano passado, eu tive de deixar minha casa e me refugiar próximo do hospital. Nós nos mudamos para tendas e foi muito difícil, mas estamos tentando lidar com a nossa atual situação.

Uma nova onda de pessoas fugindo de suas casas chegou na região à medida que a frente de batalha se aproximava cada vez mais nos últimos 10 dias. Acampamentos próximo de zonas de conflito foram evacuados e as pessoas foram forçadas a fugir novamente. Agora, elas vivem em condições muito precárias, em meio a oliveiras, sem quaisquer serviços.

A cidade vizinha de Mare’a está completamente cercada

Distribuição de itens de primeira necessidade para famílias recém-deslocadas no distrito de Azaz (Foto: MSF) À medida que os confrontos se aproximavam, hospitais foram forçados a fechar. Nós tivemos de evacuar pacientes e equipes médicas. Apenas uma equipe reduzida foi mantida para lidar com a estabilização de casos emergenciais e encaminhar pacientes a outros hospitais e centros médicos.

Nós vivemos e trabalhamos em uma área pequena e isolada, que basicamente não recebe qualquer assistência, e nós não podemos encaminhar pacientes que não temos condições de tratar para Aleppo ou Idlib.

No meu trabalho normal, sou responsável por supervisionar a equipe de enfermagem, acompanhar os serviços oferecidos a pacientes e checar os equipamentos e ferramentas em uso no hospital.

Estamos falando sobre o único hospital da região norte de Azaz que pode oferecer vacinação às crianças. O hospital também dispõe de um ônibus que realizava atividades de encaminhamento nos acampamentos, registrava pacientes, levava-os ao hospital para tratamento, e depois de volta para casa.

Em fevereiro, a região presenciou um grande fluxo de pessoas que fugiam de suas casas e nós tivemos de estruturar uma equipe médica para lidar com a situação fora do hospital. A equipe, que inclui enfermeiros e assistentes de enfermagem, visitaram os acampamentos para identificar casos de desnutrição e necessidades de vacinação, detectar surtos e registrar doenças existentes, como infecções respiratórias.

Uma segunda equipe estava encarregada de realizar vacinações e transporte de pacientes para o hospital. Nós atendemos pequenos surtos de doenças, como sarampo e infecções do trato respiratório superior.

As pessoas esperam voltar para suas casas quando a guerra terminar, mas muitas casas foram destruídas e deixadas em ruínas.

Nós esperamos que a guerra acabe e o massacre termine, e que os deslocados tenham condições de voltar para casa. Mas parece que isso não vai acontecer tão cedo. Estamos fazendo o que podemos e além. Ficamos felizes quando vemos nossos pacientes recuperados. Isso nos dá mais ânimo para continuar o trabalho que estamos realizando.

Essa é uma situação humanitária difícil e as pessoas estão tentando lidar com isso, enquanto agências de ajuda estão lutando para fornecer itens básicos. Nós esperamos que a situação melhore. ”


Síria: mais de 50 mortos em ataque contra hospital em Aleppo



03/05/2016

MSF afirma que a situação permanece crítica na cidade síria, que foi totalmente bombardeada

É com profunda tristeza que a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) confirma, até o momento, a morte de mais de 50 pessoas – incluindo pacientes e ao menos seis profissionais médicos – após os ataques aéreos contra o hospital Al Quds apoiado por MSF em Aleppo, na Síria. A instalação e áreas ao seu redor foram atingidas na noite do dia 27 de abril por bombardeios que não pouparam nenhuma parte da cidade.

“O céu está caindo em Aleppo. A cidade, onde têm se instalado consistentemente as frentes de batalha desse conflito brutal, agora está sob o risco de sofrer uma ofensiva completa, sem que lugar algum seja pouopado”, diz Muskilda Zancada, coordenadora-geral de MSF na Síria. “Ataques contra hospitais e profissionais médicos são um indicador devastador de como a guerra na Síria está sendo travada, uma das inúmeras maneiras brutais por meio das quais os civis estão sendo alvejados.”

Esta não é a primeira vez que o hospital Al Quds é atingido por bombas; a instalação já foi prejudicada e parcialmente destruída algunas vezes. A última delas foi em 2015. Além do Al Quds, MSF recebeu relatos de que outro centro de saúde, que não recebe o apoio da organização, também foi atingido.

“MSF apoia o hospital Al Quds desde 2012. Tem sido uma grande honra para nós poder trabalhar de maneira tão próxima com pessoas tão dedicadas”, diz Zancada. “Nós vemos dia sim dia não o quanto eles arriscam suas vidas em meio ao inferno dessa guerra, para garantir que a população possa ter acesso a cuidados médicos. Sua perda é nossa perda, e nós continuamos comprometidos em ajudar o hospital a retomar as atividades.”

Agora, MSF está desesperadamente preocupada com a situação das cerca de 250 mil pessoas que enfrentam a ameaça crescente de ficarem completamente isoladas, sem acesso a cuidados médicos.

“O ataque contra o hospital Al Quds destruiu um dos últimos locais em Aleppo onde se poderia encontrar humanidade. Aleppo já é um fragmento do que era antes; e esse último ataque parece determinado a eliminar até mesmo isso”, acrescenta Zancada.

MSF gostaria de atestar o trabalho heroico de médicos sírios em todo o país, que continuam tentando tratar suas comunidades em condições inimagináveis. O hospital solicitou apoio em termos de equipamentos médicos e medicamentos, e MSF está empenhada em ajudar nisso e em sua reconstrução.

MSF mantém seis instalações médicas no norte da Síria e apoia mais de 150 hospitais e centros de saúde no país, entre eles, o hospital Al Quds. A organização presta suporte à instalação desde 2012 com doações irregulares e desde 2014 com doações regulares de medicamentos.

Jordânia: MSF inaugura clínica para doenças crônicas

Foto: Ton Koene

07/04/2016

Próximo à fronteira com a Síria, a nova instalação responderá às necessidades de refugiados sírios e jordanianos vulneráveis

A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) inaugurou oficialmente um centro de saúde na cidade de Al Ramtha, no norte da Jordânia, para responder a algumas das necessidades de saúde crônicas de refugiados sírios e jordanianos vulneráveis na cidade.

A Jordânia abriga cerca de 660 mil refugiados registrados, e muitos outros que não possuem registro. Cerca de 100 mil sírios vivem em acampamentos, onde o acesso a cuidados de saúde é relativamente fácil. Mas para aqueles que vivem fora dos acampamentos, obter diagnóstico e tratamento para doenças crônicas, como diabetes, doenças cardiovasculares, asma e hipertensão, pode ser difícil por causa do custo do tratamento.

“O tratamento para doenças crônicas pode custar 40 JOD por mês para os refugiados, e, com muitos enfrentando enormes dificuldades financeiras, isso pode ser um fardo muito pesado para eles”, disse Manuel Lopez Iglesias, coordenador-geral de MSF na Jordânia.

Inaugurada mediante um acordo com o Ministério da Saúde jordaniano, a clínica visa aliviar um pouco a sobrecarga da oferta de cuidados de saúde para a população local.

A clínica em Al Ramtha – lar de aproximadamente 70 mil refugiados sírios – vai oferecer consultas médicas, testes laboratoriais básicos e tratamento para refugiados sírios e jordanianos que não estão cobertos por planos de saúde. A clínica ficará aberta cinco dias por semana, e todos os serviços são gratuitos.

MSF mantém outras duas clínicas de tratamento de doenças crônicas de refugiados sírios em Irbid, assim como uma maternidade e um projeto de saúde mental também para refugiados sírios. Além disso, MSF administra uma unidade emergencial de cirurgia de trauma no hospital de Al Ramtha, e um hospital regional que oferece cirurgia reconstrutiva para vítimas da guerra em Amã.

SÍRIA: DISCURSO DA PRESIDENTE INTERNACIONAL DE MSF

Foto: MSF

20/02/2016

A Dra. Joanne Liu fala sobre a crise humanitária na Síria no Palácio das Nações, em Genebra

Hoje, na Síria, o anormal é agora normal. O inaceitável é aceitável.

Os ataques brutais e implacáveis a civis são o aspecto dominante dessa guerra. Além do incontável número de mortos, as centenas de milhares de pessoas fugindo por sobrevivência. Muitas das quais encurraladas, e negadas o direito fundamental de fugir.

Ataques deliberados contra infraestruturas civis, incluindo hospitais que batalham para oferecer assistência vital, são rotina. Cuidados de saúde na Síria estão na mira de bombas e mísseis. O sistema está em colapso.

Falando com clareza: os ataques contra civis e hospitais precisam parar. A normalização de tais ataques é intolerável.

O ataque mais recente aconteceu há apenas três dias, em 15 de fevereiro, em Mar’at Al Numan, na província de Idlib. Às 9h00, ataques aéreos destruíram um hospital apoiado por Médicos Sem Fronteiras (MSF). Ao menos 25 pessoas foram mortas, entre elas nove profissionais médicos e 16 pacientes. Outras dez pessoas ficaram feridas.

De acordo com relatos feitos pela equipe médica no local, quatro mísseis atingiram o hospital em meio a um ataque que durou cerca de dois minutos. Quarenta minutos depois, após a chegada do resgate, o local foi bombardeado novamente.

Esses ataques secundários, conhecidos como “double taps” no jargão militar, que tiveram como alvo o pessoal médico e de resgate que tentava salvar os feridos, são revoltantes. Mas não parou por aí. Um hospital próximo dali, que recebeu muitas das pessoas feridas no primeiro ataque, foi atingido uma hora depois.

Essa destruição cínica dos hospitais e a morte de pessoal médico priva comunidades inteiras do acesso a cuidados médicos essenciais.

Esse ataque só pode ser considerado deliberado. Provavelmente, foi conduzido pela coalizão liderada pelo governo sítio que está predominantemente ativa na região.

Nós dizemos em alto e bom som: o médico do seu inimigo não é seu inimigo.

O hospital em Mar’at Al Numan era uma chance de sobrevivência. A instalação tinha 30 leitos e contava com 54 profissionais, dois centros cirúrgicos, um ambulatório e uma sala de emergência. Milhares de pessoas eram tratadas mensalmente.

E o ataque a Mar’at Al Numan apenas ecoa uma realidade ainda mais ampla.

Em 2015, MSF coletou dados médicos de 70 clínicas e hospitais apoiados pela organização na Síria. Mais de 154 mil pessoas feridas na guerra foram tratadas. Dessas, entre 30 e 40% eram mulheres e crianças.

As informações que reunimos são estarrecedoras, mas são apenas um retrato de algo muito maior. As pessoas feridas ou aquelas que são mortas fora das instalações de saúde apoiadas por MSF permanecem fora dessa contagem. É muito provável que a situação real seja muito, muito pior.

Igualmente chocantes são os 101 ataques aéreos ou bombardeios que atingiram instalações apoiadas por MSF nos últimos 13 meses. Diversas das estruturas foram atingidas duas vezes após a chegada de pessoal médico e de resgate. Pacientes nos disseram que agora estão com muito medo para irem a hospitais.

Com ataques mais intensos nos últimos dias e semanas, muitos milhares de pessoas, incluindo mulheres e crianças, estão fugindo para sobreviver.

Cem mil pessoas estão no norte da Síria, próximo a Azaz. Elas estão tentando escapar dos progressivos bombardeios aéreos e combates em terra. Elas estão encurraladas entre a fronteira turca e a frente de batalha. Na medida em que a Turquia fez esforços notáveis para abrigar milhões de refugiados sírios, uma potencial catástrofe civil agora se instala por suas fronteiras. Enquanto isso, no sul, situação similar se desdobra na fronteira atualmente fechada com a Jordânia.

Entre 1,6 e 1,9 milhão de outros sírios estão sitiados, sem poder escapar de ataques aéreos aleatórios e devastadores. Eles precisam desesperadamente de suprimentos médicos, alimentos e outros itens essenciais.

Quatro dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) estão envolvidos nas operações militares na Síria. Eles estão falhando em cumprir com suas próprias resoluções no que diz respeito à proteção de civis e de cuidados de saúde, e à provisão de assistência humanitária.

A vida na Síria está despedaçada. Não há segurança nem santuários diante dos ataques implacáveis. Escolas, hospitais e casas estão destruídos. Milhões fugiram. Outros não podem fazer o mesmo, e estão enjaulados em meio a fronteiras fechadas.

Hoje, a Síria é um matadouro.

Somos testemunhas de um fracasso global coletivo.    

Ataques a instalações de saúde e outros alvos civis precisam cessar, e ser objeto de investigações independentes.

Repetimos nossa demanda para que os bombardeios sejam interrompidos nas áreas sob cerco.

Pedimos o aumento e o desimpedimento da oferta de ajuda, e a evacuação imediata dos feridos e doentes. As pessoas têm o direito fundamental de fugir de uma guerra ativa.

O Conselho de Segurança da ONU, e todos os poderes envolvidos na região, precisam fazer mais, simplesmente para salvar vidas. Simplesmente para acabar com essa agonia.


Síria: MSF trata pacientes com sintomas de exposição a agentes químicos em Aleppo

Foto: Robin Meldrum/MSF

06/08/2015

Violência contra civis parece não ter fim no país

Um hospital administrado pela organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) na província de Aleppo tratou quatro pacientes com sintomas de exposição a agentes químicos na noite de quinta-feira (21/08).   

Os pacientes são uma família de quatro integrantes – os dois pais, uma menina de três anos e uma bebê recém-nascida de cinco dias. Eles chegaram ao hospital uma hora após a exposição, apresentando vermelhidão nos olhos, eritema na pele, conjuntivite e dificuldades para respirar, seguidos da aparição de bolhas e de uma piora nas condições de respiração cerca de três horas depois. Foi oferecido tratamento sintomático e oxigênio a todos eles, até que fossem evacuados para outra instalação para receberem tratamento especializado.

A família é da cidade de Marea (norte de Aleppo, distrito de Azaz), que foi alvo de bombardeios pesados no dia 21 de agosto, após uma semana de ataques intensos com morteiros e artilharia. De acordo com o depoimento dos pacientes, um bombardeio com morteiros atingiu sua casa aproximadamente às 19h30. Depois da explosão, um gás amarelo se espalhou pela sala de estar. Os pais, com a ajuda de alguns vizinhos, tentaram proteger seus filhos, cobrindo-os com seus próprios corpos. Eles foram encaminhados ao hospital de Marea, onde receberam os primeiros-socorros. Na medida em que a situação se agravou, eles foram transferidos ao hospital de MSF.

“MSF não tem evidências laboratoriais para confirmar a causa desses sintomas. No entanto, as características clínicas e a evolução dos pacientes que nossa equipe tratou, assim como seus depoimentos sobre as circunstâncias acerca do momento do envenenamento, apontam para a exposição a um agente químico”, disse Pablo Marco, coordenador do programa de MSF na Síria.

Essa terrível notícia vem se juntar a uma situação humanitária que se deteriora cada vez mais na província de Aleppo, onde, em diferentes ofensivas, pelo menos 11 instalações médicas foram deliberadamente atacadas com bombas de barril nos últimos meses, e onde as poucas instalações que continuam operando não têm capacidade para responder às necessidades massivas da população.

“Qualquer uso de armas químicas constitui uma violação extremamente grave do direito internacional humanitário. Isso só representaria um nível a mais de sofrimento a uma população que já está enfrentando as consequências da pior crise humanitária dos últimos anos. Nós fazemos um apelo a todas as partes do conflito para que tenham o respeito básico pela vida humana, e que parem com a violência indiscriminada contra os civis”, disse Pablo Marco.

MSF administra seis instalações médicas na Síria e apoia diretamente mais de 100 clínicas, postos de saúde e hospitais no país. A organização também oferece serviços médicos a sírios que fugiram para a Jordânia, o Líbano, a Turquia e o Iraque.

Fonte: MSF

Síria: “Havia corpos por toda parte. Nas mesas, nos corredores, no chão”

Foto: Equipe do hospital apoiado por MSF na Síria

24/07/2015

Diretor de hospital apoiado por MSF descreve o horror de um influxo massivo de vítimas no noroeste do país

No mês passado, um terrível ataque com mísseis devastou o centro de uma cidade na província de Idlib, na Síria. Ondas sucessivas de feridos chegaram a um pequeno hospital improvisado, apoiado pela organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF). Imediatamente, MSF começou a organizar um grande reabastecimento de itens para ser enviado ao hospital. O diretor da instalação, que pediu para permanecer no anonimato por questões de segurança, descreveu a situação.

“Os aviões circularam sobre nós no fim da tarde e nós esperamos. Será que nos tornaríamos vítimas? Nos tornaríamos números?

Às três da tarde, aproximadamente, ouvimos um som ensurdecedor de três foguetes explodindo em uma cidade próxima. Uma cidade sobrecarregada, com moradores desesperados vivendo junto a diversas pessoas deslocadas de outras regiões da Síria. Prédios e shoppings foram demolidos em poucos minutos. Tudo virou destroços. Corpos dilacerados, membros por todos os lados. Isso é um massacre. Isso é uma carnificina.

Foi uma destruição total que é difícil de descrever; um estado de histeria tomou conta das pessoas, primeiro das famílias que procuravam por seus entes queridos, depois dos vizinhos que procuravam seus vizinhos, e, então, se espalhou entre nós, os profissionais médicos.

Apenas alguns minutos depois do primeiro ataque, nós recebemos os primeiros cinco pacientes feridos, em nosso modesto hospital improvisado de 12 leitos, com apenas um centro cirúrgico.

Em vez de rezas vindas das mesquitas, havia gritos altos clamando por ajuda, implorando às pessoas que achassem os feridos e os mortos sob as ruínas.

O influxo de feridos nunca parava. O hospital ficou rapidamente sobrecarregado. Havia corpos por toda parte. Nas mesas, nos corredores, no chão. O chão estava cheio de sangue. Equipes médicas e voluntários abriam caminho entre os corpos dos feridos, fazendo o que podiam.

Nós recebemos mais de 100 pessoas feridas nas primeiras poucas horas após os ataques; muitas delas eram crianças. Só podíamos tratar 80 pacientes, e tivemos de recusar 50; não tínhamos a capacidade necessária para tratar seus ferimentos.

Nós só podíamos oferecer tratamento para aqueles que haviam sido feridos por estilhaços, casos ortopédicos e amputações. Infelizmente, tivemos de recusar pacientes com complicações neurológicas ou vasculares, simplesmente porque não temos recursos ou profissionais médicos especializados como neurocirurgiões.

Recusar pacientes só coloca nossa equipe médica já desgastada sob ainda mais pressão. Uma mãe chegou procurando por seu filho. Conseguimos identificá-lo a partir da descrição que ela fez, mas sabíamos que havíamos perdido sua vida. Ela começou a chorar e se recusou a identificar o corpo. Eu só tinha uma escolha; levei para a mãe a blusa do menino. Esse momento trágico aconteceu em poucos segundos. Eu estava ajudando meus colegas a mover e fazer a triagem de pacientes para que pudéssemos oferecer cuidados primeiramente àqueles mais gravemente feridos. Havia sangue por toda parte, mas estávamos ficando sem bolsas de sangue. Homens e mulheres doaram seu próprio sangue para estranhos.

Com a chegada da noite, ficou impossível achar pessoas vivas sob as ruínas. Continuaremos encontrando corpos pelos próximos dias. Como equipe médica, a única escolha que temos é reabastecer nossos estoques, recobrar nossas esperanças, e nos preparar para a próxima tragédia.”



Cresce dramaticamente o número de pacientes sírios feridos por bombas de barril em projeto cirúrgico de MSF no norte da Jordânia

Foto: MSF
15/07/2015

Uma das vítimas atendidas recentemente foi um bebê recém-nascido que havia sido atingido na cabeça

Mais de 65 pacientes sírios feridos de guerra – a maioria atingida por bombas de barril – chegaram à sala de emergência do hospital de Al-Ramtha no norte da Jordânia nas últimas duas semanas, marcando um aumento significativo do número de casos atendidos pela organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Na última semana de junho, em apenas três dias, a sala de emergência recebeu 34 sírios feridos. Alguns deles foram estabilizados pelas equipes médicas de MSF e encaminhados para outros hospitais. O restante continua recebendo tratamento cirúrgico e de reabilitação na instalação, onde MSF atua em estreita colaboração com o Ministério da Saúde da Jordânia para oferecer cuidados médicos de qualidade aos pacientes sírios, a menos de cinco quilômetros da fronteira com a Síria.   

“Mais de 70% dos feridos que recebemos apresentam lesões ocasionadas por explosões, e seus múltiplos ferimentos contam suas histórias”, disse Renate Sinke, coordenador do programa de cirurgia de emergência de Ramtha de MSF.

MSF e muitas outras organizações tem pedido, repetidamente, o fim dos bombardeios em áreas povoadas dentro da Síria. Esses pedidos não tiveram nenhum impacto. Pacientes de todas as idades continuam chegando à instalação de MSF em grande proporção com ferimentos que eles contam terem sido causados por bombas de barril lançadas por helicópteros em áreas residenciais e estruturas de saúde no sul da Síria.

Um dos novos pacientes que chegou à instalação de MSF no norte da Jordânia foi Majed, um recém-nascido de apenas 27 dias com um ferimento na cabeça causado por estilhaços de uma bomba de barril explosiva.

“Às 9 horas, uma bomba de barril atingiu nossa casa em Tafas, e eu não estava ali na hora. Eu preciso trabalhar para alimentar e cuidar da minha família. Quando eu ouvi as notícias, eu parei o que estava fazendo e corri para a minha casa o mais rápido que pude”, disse Murad, o pai de Majed.

“Eu encontrei minha esposa e minha mãe, ambas feridas, mas seus ferimentos não pareciam tão graves, e então eu vi meu menino. Ele estava quieto e sua cabeça parecia estar ferida. Eu o levei ao hospital em Tafas. Eles tentaram ajudá-lo, mas não puderam fazê-lo, porque não há equipamento apropriado na Síria. Ele precisava ir à Jordânia para receber tratamento. Levamos uma hora e meia do momento do ferimento até que chegássemos à fronteira, e algumas horas mais até chegarmos à Ramtha. Agora, tudo o que eu quero é que o meu bebê melhore e volte para a Síria”, acrescenta Murad.

Tem havido relatos de instalações de saúde sendo atacadas na província de Daraa nas últimas duas semanas, o que levou a um número crescente de pacientes sírios se arriscando e percorrendo longas jornadas para cruzar a fronteira jordaniana, em busca de acesso a cuidados médicos, que se tornaram extremamente difíceis de conseguir em seu país de origem. “Uma proporção significativa de pacientes que recebemos sofreram ferimentos na cabeça e outros múltiplos ferimentos que não podem ser tratados no sul da Síria, já que tomografias e outras opções de tratamento são limitadas”, disse o Dr. Muhammad Shoaib, coordenador médico de MSF na Jordânia.

Até o momento, muitos hospitais na Síria sofrem com capacidade limitada para lidar com ferimentos altamente complexos, falta de mão-de-obra e competências médicas, ou falta de equipamentos necessários, já que estes têm sido constantemente danificados ou destruídos durante os ataques, impedindo que os pacientes sírios recebam cuidados médicos muito necessários e contribuindo para a deterioração generalizada dos cuidados de saúde.

Desde o início do conflito na Síria, mais de quatro milhões de sírios buscaram refúgio em países vizinhos, incluindo a Jordânia. MSF atua na Jordânia desde agosto de 2006 com um programa de cirurgia reconstrutiva em Amã, capital do país. Desde 2013, MSF tem prestado suporte a refugiados sírios e jordanianos vulneráveis das comunidades locais por meio do programa de cirurgia de trauma de emergência de Al Ramtha, assim como de um hospital voltado para cuidados materno-infantis e dois projetos em Irbid que tratam doenças não transmissíveis.



Síria: ataque hediondo com mísseis reforça necessidade urgente de intensificar ajuda humanitária

Foto: Equipe do hospital apoiado por MSF na Síria.

13/06/2015

Apoiado por MSF, hospital com capacidade para 12 leitos recebeu 130 pacientes feridos

Na tarde de 4 de junho, um ataque com três mísseis a uma cidade na província de Idlib causou uma carnificina e resultou em um influxo massivo de vítimas, com 130 pacientes feridos encaminhados ao hospital mais próximo, apoiado pela organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF). Esse último episódio aconteceu depois de um duro mês no norte da Síria, incluindo três ataques com gás cloro, relatados no fim de maio por um posto de saúde apoiado por MSF na província de Idlib. Na medida em que a violência continua inabalável na Síria, MSF faz um apelo por um aumento massivo na ajuda humanitária aos médicos sírios que trabalham na linha de frente dessa crise.

“Às 15h15, um avião caça lançou três mísseis em um bairro densamente povoado no centro da cidade”, diz o diretor do hospital apoiado por MSF, que pediu para permanecer no anonimato por questões de segurança. “Minutos depois, nosso modesto hospital com 12 leitos começou a receber pacientes com ferimentos graves. O hospital ficou rapidamente sobrecarregado. Havia corpos por toda parte – nas mesas, nos corredores, no chão. Equipes médicas e voluntários abriam caminho entre os corpos dos feridos, fazendo o que podiam. Nós só podíamos tratar 80 pacientes, e tivemos de recusar 50; nós não tínhamos a capacidade para tratar seus ferimentos.”

“Mal posso imaginar a dimensão do horror que esses médicos e enfermeiros devem ter enfrentado”, diz o Dr. Bart Janssens, diretor de operações de MSF. “Nós sabemos, pela nossa experiência, que um influxo massivo de vítimas, com 40 pacientes, em um hospital bem equipado e cheio de profissionais é um desafio desesperador. Mas ali foi o dobro desse número, em poucas horas, em uma instalação improvisada, com uma equipe médica e suprimentos limitados. Eles, assim como muitos dos hospitais na Síria, precisam de todo o suporte que podem ter.”

O diretor do hospital contatou MSF pouco depois das 15h, quando os feridos começaram a chegar, com um pedido urgente de envio de bolsas de sangue, macas e medicamentos. Os pacientes continuaram chegando até 19h. Em 5 de junho, suprimentos de emergência foram enviados ao hospital. Um reabastecimento médico geral desse hospital será organizado nos próximos dias, já que uma emergêcia como essa esgota significativamente o estoque farmacêutico de um hospital. Essa é uma instalação médica que MSF tem prestado assistência por meio de orientações técnicas e apoio de emergência desde 2013.

Esse ataque se junta a uma série de ataques com gás cloro na província de Idlib, que aconteceram no fim de maio, quando outra instalação médica apoiada por MSF tratou 136 pacientes com sintomas de envenenamento por cloro. MSF respondeu ao evento enviando 700 kits para tratamento de doenças respiratórias associadas a envenenamento por gás para esse centro de saúde e outras seis instalações na região afetada.

No ambiente perigoso da guerra na Síria, MSF e outras organizações médicas só podem realizar atividades médicas diretas em algumas áreas, onde a liberdade de movimentação e ação podem ser negociadas com grupos armados. Mas, em outros lugares, com atrocidades como ataques com bombas de barril, mísseis, e ataques químicos em uma ocorrência quase diária, uma abordagem ágil e flexível de apoio médico precisa ser ampliada.

“Oferecer ajuda na Síria ainda é possível, mas o ambiente é inacreditavelmente difícil”, diz o Dr. Bart Janssens. “Abordagens inovadoras e flexíveis são necessárias. Desistir em face da adversidade não é uma opção para nós – temos de continuar apoiando as redes médicas sírias, como estamos fazendo com mais de 100 hospitais e postos de saúde que estão recebendo apoio regular e de emergência, incluindo em regiões sitiadas.”

Atualmente, MSF está administrando seis instalações de saúde no norte da Síria. A organização passou quatro anos desenvolvendo uma rede de apoio de emergência regular e de necessidades específicas  para médicos sírios no restante do país, nas áreas que são inacessíveis pelas equipes de MSF. O apoio regular visa fornecer suprimentos e orientações médicas técnicas mensalmente para mais de 50 instalações médicas improvisadas, com um enfoque particular nas áreas sitiadas. Paralelamente, mais de 100 outras instalações estão em contato com equipes de apoio MSF, informando quando há emergências agudas e enviando listas de suprimentos essenciais que precisam com urgência.

Fonte: MSF


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