O Brasil é aqui, o Haiti, ali


[Foto: visão aérea do bairro de Bel Air, em Porto Príncipe / Divulgação - Viva Rio]

Como os haitianos enxergam os brasileiros, que desde 2004 chefiam a missão de paz da ONU, responsável por estabilizar o país que sofreu com ditaduras e, ano passado, com terremoto

Ninguém gosta de ter seu país invadido por forças estrangeiras. Essa afirmação é uma unanimidade. Mas, dentro dessa circunstância, os brasileiros são – aparentemente – mais simpáticos aos haitianos que os militares de outros países que atuam, e / ou já atuaram, na Missão de Paz organizada pela ONU. As razões dessa afinidade são diversas, mas podem ser resumidas num certo bom jogo-de-cintura verde-e-amarelo para resolver pendências que são tratadas com energia ou apatia por soldados de outras nacionalidades. Como se conseguíssemos utilizar certas características que são vistas constantemente como defeitos intrínsecos da identidade nacional para conseguir tornar o contato cotidiano com os haitianos algo mais pessoal.


A missão no Haiti é importante dentro do projeto brasileiro de se tornar um país com cada vez mais relevância internacional e, quem sabe, até conseguir um assento definitivo no Conselho de Segurança da ONU. Diferentemente de Índia - o outro integrante Bric que ainda não faz parte definitivamente do conselho e que também tem a mesma intenção -, o Brasil não possui arma atômica. Portanto, segundo estudiosos das relações internacionais, o Brasil deve se destacar nessas missões para aparecer no cenário internacional como uma potência militar que não precisa de armas de destruição em massa para se fazer respeitada. Parece, também, que está conseguindo.


Um exemplo foi a fala do presidente norte-americano Barack Obama, em passagem pelo país agora em março, sobre a presença brasileira na África e no pequeno país caribenho que foi o primeiro a ser governado por afro-descendentes. Esse detalhe da história haitiana, inclusive, sempre colocou a ilha num patamar diferenciado na tradição latino-americana. Adorado por uns e temido por outros, o nome do Haiti ficou ainda mais marcado no imaginário nacional com a música de Caetano Veloso, que, demonstrando essa ambivalência de sentimentos, dizia que o Haiti era e não era aqui.


O crescimento da importância brasileira em escala global poderia vir junto com uma arrogância própria de quem é superior – econômica, militarmente, etc. –, como vemos outros países associados aos países chamados “desenvolvidos”. O Brasil, contudo, parece estar investindo no desenvolvimento de uma “tecnologia social”, particular, única, que consegue nos aproximar de outros povos e ajudá-los, sem a imposição de nenhuma natureza. Não é de se espantar que se fale, no caso do Haiti, tanto numa primeira missão de paz entre nações Sul-Sul, se referindo ao paralelo imaginário que dividiria o planeta entre nações ricas (ao Norte) e pobres.


“Quando os soldados brasileiros estavam em Angola e tinham que apartar uma briga entre genro e sogra, diferentemente dos soldados de outros países que apelariam logo para a força, usávamos a tecnologia de nossos subúrbios: os rapazes davam um abraço nos envolvidos e levavam cada um para cada canto para esfriar a cabeça”, explica o professor de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Williams Gonçalves, lembrando que o Brasil estreou o capacete azul, usado pela primeira vez na missão de paz em Suez, em 1956.


Texto completo


Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional


Endereço eletrônico: http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=3735

Um comentário:

  1. Carlos, parabéns pela iniciativa de escrever sobre suas experiências no Haiti. Voltarei aqui para aprender um pouco mais com você.

    ResponderExcluir

Obrigado pelo seu comentário e pela sua visita.
Volte sempre!!!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...