Nadador haitiano compete sem nunca treinar em piscina

Dorsavil é um dos nove atletas do Haiti no Pan  
Foto: Luiz Teles 
18/07/2015

Quando o haitiano Frantz Dorsavil entrou na água da piscina do Complexo Aquático CIBC, pelos Jogos Pan-Americanos, realizava o sonho de nadar numa competição internacional de alto nível. Jamais havia sequer entrado num complexo esportivo tão grande. Em sua prova, os 50m livres, a mais rápida da natação mundial, fez o pior tempo de todos os atletas da competição. Mas os 33s83 em que completou o trajeto, mesmo quase 12 segundos acima do 1º colocado na fase de classificação (21s97, do americano Josh Schneider), representaram para ele uma alegria que jamais havia pensado ter em vida.

"Meu país só tem olhos para o futebol. No máximo, atletismo. Conseguir competir aqui é algo inimaginável. Estar aqui é uma conquista tão grande quanto ir a uma Copa do Mundo", disse o atleta após a prova, onde foi entusiasticamente aplaudido pelo público nos metros finais.

País sem tradição em esportes olímpicos (a última medalha foi em 1928: prata no salto em distância com Silvio Cator), o Haiti, que já tinha os piores índices de desenvolvimento das Américas, foi devastado em janeiro de 2010 por um terremoto de 7 graus na escala Richter.

Os números da ONU sobre a tragédia apontam total de 316 mil mortos, 350 mil feridos e mais de 1,5 milhão de flagelados. A estimativa da entidade é que o país demore até 50 anos para se recuperar. O forte tremor, que destruiu o pouco que a nação já tinha em termos de saneamento básico e estrutura, acabou também com os raros centros esportivos da capital Porto Príncipe.

Na época, a única piscina de dimensões esportivas ainda estava sendo construída e a obra ficou impossível de ser concluída, por conta da óbvia prioridade de recuperar outras instalações de Porto Príncipe. "Nunca treinei lá numa piscina", explica Dorsavil. Todo o trabalho de esportes aquáticos no país é desenvolvido no mar, na 'Marina Antiga', a céu aberto, próximo a um deck onde muitas vezes os atletas dividem espaços com barcos.

O Haiti veio para Toronto com nove atletas, para disputar cinco esportes. São quatro do atletismo, dois no levantamento de peso, um da luta olímpica, um do taekwondo e Dorsavil, na natação. "Estamos reconstruindo nosso esporte. Não é uma tarefa fácil. Viemos aqui com o objetivo de ganhar experiência internacional", explica o assessor de imprensa do Comitê Olímpico Haitiano, Jean Edouard Gilot. "Queremos chegar a pelo menos uma final, no atletismo", completa.

Reconstrução

Sobre a reconstrução do esporte no Haiti, em julho do ano passado, com todo custo de US$ 18 milhões (R$ 57,5 milhões) bancado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), foi inaugurado em Porto Príncipe o Sport for Hope Centre. O complexo não tem piscina, mas abriga modalidades como futebol, rúgbi, atletismo, vôlei, basquete, handebol, tênis, judô, taekwondo, boxe, karatê, badminton, tênis de mesa e levantamento de peso.

"É preciso refazer uma geração inteira de atletas e os resultados só virão a partir de 2020", avalia Gilot. E ele tem razão ao falar isso. Em 2010, segundo o jornal 'Haiti Libre', 30 pessoas do esporte de alto nível do país, entre atletas e técnicos, morreram no terremoto.

"Hoje, nossos principais atletas não estão no Haiti. Temos muitos em faculdades dos Estados Unidos, e alguns na Europa, a grande maioria, do atletismo", conta a chefe de missão do país no Pan, Marie Monique Andre. Em Londres-2012, a nação levou cinco atletas, em apenas dois esportes: atletismo e judô. Quatro, contudo, nasceram nos EUA. Um deles, Samyr Lane, que estudou em Harvard, no salto-triplo, chegou à final do evento e voltou para casa, de férias, tratado como herói.

Fonte: A Tarde


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