Astrofísica da UFRGS vence prêmio internacional de Mulheres na Ciência

Do hobby de brincar de cientista quando criança, Thaisa se tornou uma das 
pesquisadoras mais renomadas do mundo na área das ciências espaciais
Foto: Brigitte Lacombe / Divulgação
10/04/2015 

Professora Thaisa Bergmann foi condecorada por estudar os buracos negros do universo

por Luísa Martins

Há pelo menos 30 anos, a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Thaisa Storchi Bergmann, 59 anos, se dedica a estudar o céu, em busca de elementos que a maioria das pessoas só ouve falar nos filmes de ficção: os buracos negros do universo. Sua consistente trajetória no meio acadêmico a fez ser eleita, este ano, uma das cinco vencedoras do Prêmio L'Oréal-Unesco Para Mulheres Ciência — a sexta brasileira em 17 anos. 

O interesse da gaúcha de Caxias do Sul pela ciência não é de família. O pai era da área da contabilidade e a mãe, professora primária. Mas, na escola, achava as aulas de física, química e biologia tão fascinantes a ponto de pedir aos pais para ter um laboratório no sótão de casa.  Assim, as prateleiras do quarto da menina, à época com 11 anos, tinham mais tubos de ensaio que bonecas. 

— O ponto alto da minha infância foi quando ganhei um microscópio. Nas horas vagas, gostava de analisar as asinhas das moscas, ver qual era a composição dos pequenos objetos, essas coisas — relembra a astrofísica.

Mas brincar de cientista era algo como um hobby de criança. Tanto que Thaisa chegou a cursar arquitetura, mas foi fisgada pelas disciplinas de física do primeiro semestre. E, então, mudou de curso. Poucos meses depois, foi selecionada para uma bolsa de estudos na área da astronomia, de onde nunca mais saiu — apesar de ser um ambiente em que 72% dos pesquisadores registrados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) são homens.

Thaisa, não foram poucas as vezes, teve de se desdobrar entre carreira e família. Confessa: foram períodos difíceis e conflituosos de ausência. Abriu mão de participar do início da alfabetização dos filhos para aceitar uma bolsa de pós-doutorado na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. 

— Contei com a compreensão do meu marido e com a ajuda da minha mãe para ajudar com as crianças. Me sinto muito grata por este prêmio, porque é uma certificação de que minhas escolhas valeram a pena — diz.

No centro das galáxias

Os objetos de estudo que tornaram Thaisa uma das mais renomadas astrofísicas do mundo são os buracos negros supermassivos. São estruturas formadas por estrelas, pequenos planetas, nuvens de gás e outros elementos que foram "sugados" pela sua gravidade, desde o Big Bang (grande explosão térmica que teria originado o universo) até hoje. Nada consegue escapar dele, nem a luz — por isso, o nome.

— Os buracos negros são lugares onde a gravidade ocorre ao extremo. Pesquisá-los, então, é uma excelente forma de entender a gravidade, fundamental para a vida humana na Terra. Além disso, essas estruturas ajudam a compreender a evolução do sistema solar. 

Com a condecoração de Thaisa, o Instituto de Física da UFRGS torna-se o único, em 17 anos de Prêmio L’Oréal-Unesco Mulheres na Ciência, a receber dois reconhecimentos. Em 2013, quem venceu foi a física Márcia Barbosa, diretora do Instituto.

Quem são as demais laureadas

Rajaâ Cherkaoui El Moursli — África e Estados Árabes (Marrocos)

Contribuiu para uma das grandes descobertas da Física: a prova da existência do Bóson de Higgs, partícula responsável pela criação de massa no universo.

Yi Xie — Ásia/Pacífico (China)

Criou novos nanomateriais que podem converter o calor da luz solar em eletricidade, ajudando a reduzir a poluição e a impulsionar a eficiência energética.

Dame Carol Robinson — Europa (Reino Unido)

Dedicou a carreira a estudar o funcionamento das proteínas e por estabelecer o campo científico da biologia estrutural dos gases, com forte impacto na pesquisa médica.

Molly S. Shoichet — América do Norte (Canadá)

Desenvolveu materiais que regeneram o tecido nervoso danificados e criou métodos para administrar medicamentos diretamente no cérebro, colocando a química a serviço da medicina.



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