Política Ambiental

Ex-ministra do Meio Ambiente e referência mundial em militância por causas ecológicas, Marina deve seguir para o PV, em uma negociação que envolve a candidatura dela à sucessão presidencial em 2010.

A senadora e ex-ministra Marina Silva deixa o PT, partido ao qual era filiada desde 1985.

Nascida com o nome de Maria Osmarina Silva de Lima, ela é vista como ameaça aos candidatos da base do governo nas eleições presidenciais.
Marina deixou a administração federal após mais de cinco anos e quatro meses por conta de divergências com o grupo liderado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT ao Palácio do Planalto.

Marina Silva exerce seu segundo mandato no Senado. Foi eleita pela primeira vez em 1994, aos 36 anos, e naquele mesmo ano se tornou nome natural do PT para a pasta do meio ambiente no caso de vitória de Lula, o que aconteceu em 2002.

Ela nasceu em uma família pobre no seringal Bagaço, a 70 km de Rio Branco. Dos onze filhos do casal Pedro Augusto e Maria Augusta, três morreram ainda pequenos.
A senadora se tornou a segunda mais velha entre os oito sobreviventes, sete mulheres e um homem.
Trabalhou como empregada doméstica e seringueira para ajudar a família e custear seu tratamento de hepatite, doença que contraiu ainda jovem.
Após 30 anos, Marina Silva deixa o PT

Estudante de cursos supletivos, Marina só foi alfabetizada quando adolescente. Depois, graduou-se em História pela Universidade Federal do Acre, onde descobriu o marxismo na década de 1980. Foi ali que entrou para o Partido Revolucionário Comunista (PRC), grupo semi-clandestino de oposição ao Regime Militar (1964-1985). Começou a dar aulas de História e a frequentar as reuniões do movimento sindical dos professores.

Ao lado de Chico Mendes, Marina assumia na maior parte do tempo a liderança do movimento sindical no Estado. E foi para ajudá-lo na candidatura a deputado estadual que ela passou a oficialmente integrar o PT, em 1985.

Em 1988, foi eleita como a vereadora mais votada para a Câmara Municipal de Rio Branco, a única declaradamente de esquerda. Dois anos depois, foi eleita deputada federal.

No final do primeiro ano de mandato, Marina passou mal após uma viagem ao interior e teve de ser hospitalizada. Começou um longo período de sofrimento que só foi amenizado com a ida dela para São Paulo, onde recorreu à ajuda de Lula, José Genoíno e outros líderes do PT para conseguir um melhor tratamento e exames mais completos. O diagnóstico foi de contaminação por metais.

Recuperada, disputou e venceu a eleição para o Senado Federal, onde tinha interlocução até com o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e com o ex-presidente do Senado Antonio Carlos Magalhães, adversários políticos do PT.

Marina Silva foi casada duas vezes e tem quatro filhos.
Maurício Savarese
Do UOL Notícias
Texto enviado por Marina Silva à direção do PT:

Caro companheiro Ricardo Berzoini,

Tornou-se pública nas últimas semanas, tendo sido objeto de conversa fraterna entre nós, a reflexão política em que me encontro há algum tempo e que passou a exigir de mim definições, diante do convite do Partido Verde para uma construção programática capaz de apresentar ao Brasil um projeto nacional que expresse os conhecimentos, experiências e propostas voltados para um modelo de desenvolvimento em cujo cerne esteja a sustentabilidade ambiental, social e econômica.

O que antes era tratado em pequeno círculo de familiares, amigos e companheiros de trajetória política, foi muito ampliado pelo diálogo com lideranças e militantes do Partido dos Trabalhadores, a cujos argumentos e questionamentos me expus com lealdade e atenção. Não foi para mim um processo fácil. Ao contrário, foi intenso, profundamente marcado pela emoção e pela vinda à tona de cada momento significativo de uma trajetória de quase trinta anos, na qual ajudei a construir o sonho de um Brasil democrático, com justiça e inclusão social, com indubitáveis avanços materializados na eleição do Presidente Lula, em 2002.

Hoje lhe comunico minha decisão de deixar o Partido dos Trabalhadores. É uma decisão que exigiu de mim coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência com o que acredito ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade. Tenho certeza de que enfrentarei muitas dificuldades, mas a busca do novo, mesmo quando cercada de cuidados para não desconstituir os avanços a duras penas alcançados, nunca é isenta de riscos.

Tenho a firme convicção de que essa decisão vai ao encontro do pensamento de milhares de pessoas no Brasil e no mundo, que há muitas décadas apontam objetivamente os equívocos da concepção do desenvolvimento centrada no crescimento material a qualquer custo, com ganhos exacerbados para poucos e resultados perversos para a maioria, ao custo, principalmente para os mais pobres, da destruição de recursos naturais e da qualidade de vida.

Tive a honra de ser ministra do Meio Ambiente do governo Lula e participei de importantes conquistas, das quais poderia citar, a título de exemplo, a queda do desmatamento na Amazônia, a estruturação e fortalecimento do sistema de licenciamento ambiental, a criação de 24 milhões de hectares de unidades de conservação federal, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro. Entendo, porém, que faltaram condições políticas para avançar no campo da visão estratégica, ou seja, de fazer a questão ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das políticas públicas.

É evidente que a resistência a essa mudança de enfoque não é exclusiva de governos. Ela está presente nos partidos políticos em geral e em vários setores da sociedade, que reagem a sair de suas práticas insustentáveis e pressionam as estruturas políticas para mantê-las.

Uma parte das pessoas com quem dialoguei nas últimas semanas perguntou-me por que não continuar fazendo esse embate dentro do PT. E chego à conclusão de que, após 30 anos de luta socioambiental no Brasil - com importantes experiências em curso, que deveriam ganhar escala nacional, provindas de governos locais e estaduais, agências federais, academia, movimentos sociais, empresas, comunidades locais e as organizações não-governamentais - é o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido político do qual fiz parte por quase trinta anos, mas sim o do encontro com os diferentes setores da sociedade dispostos a se assumir, inteira e claramente, como agentes da luta por um Brasil justo e sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores e paradigmas que sinalizará um novo padrão de desenvolvimento para o País. Assim como vem sendo feito pelo próprio Partido dos Trabalhadores, desde sua origem, no que diz respeito à defesa da democracia com participação popular, da justiça social e dos direitos humanos.

Finalmente, agradeço a forma acolhedora e respeitosa com que me ouviu, estendendo a mesma gratidão a todos os militantes e dirigentes com quem dialoguei nesse período, particularmente a Aloizio Mercadante e a meus companheiros da bancada do Senado, que sempre me acolheram em todos esses momentos. E, de modo muito especial, quero me referir aos companheiros do Acre, de quem não me despedi, porque acredito firmemente que temos uma parceria indestrutível, acima de filiações partidárias. Não fiz nenhum movimento para que outros me acompanhassem na saída do PT, respeitando o espaço de exercício da cidadania política de cada militante. Não estou negando os imprescindíveis frutos das searas já plantadas, estou apenas me dispondo a continuar as semeaduras em outras searas.

Que Deus continue abençoando e guardando nossos caminhos

Saudações fraternas

Marina Silva

Jô Soares entrevista senadora Marina Silva - Parte 1/5







Jô Soares entrevista senadora Marina Silva - Parte 2/5







Jô Soares entrevista senadora Marina Silva - Parte 3/5






Jô Soares entrevista senadora Marina Silva - Parte 4/5






Jô Soares entrevista senadora Marina Silva - Parte 5/5




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