Crise se prolonga no Haiti com impugnação dos resultados eleitorais

Jovenel Moise, do Partido Haitiano Tet Kale (PHTK), foi declarado vencedor 
em resultados preliminares divulgados pelo Conselho Eleitoral Provisório 
do Haiti (Foto: Hector Retamal/AFP)

06/12/2016 

Três partidos contestam a vitória de Jovenel Moise, que teve 55% dos votos. Primeira eleição, em outubro de 2015, foi cancelada após fraudes e contestação.

A interminável crise eleitoral prossegue no Haiti, depois de três dos candidatos impugnarem nesta sexta-feira (2) os resultados do primeiro turno da eleição presidencial, em meio a um drama que paralisa o desenvolvimento do país caribenho.

Segundo os dados anunciados na segunda-feira à noite pelo Conselho Eleitoral Provisório (CEP), Jovenel Moise - do Partido Haitiano Tet Kale (PHTK), apoiado pelo ex-presidente Michel Martelly - obteve em 20 de novembro 55% dos votos; logo depois está Jude Célestin, com 19,52%; Moise Jean-Charles, com 11,04%; e Maryse Narcisse, com 8,99%.

Antes do anúncio dos resultados, o partido Lapeh, de Celestin, já havia escrito oficialmente ao CEP para contestar a maneira como haviam sido tratados os documentos saídos dos centros de votação.

"O decreto eleitoral estabelece que o eleitor deve assinar a folha de comparecimento ou, se não souber ler nem escrever, colocar sua digital. Lamentavelmente, o CEP escolheu não considerar este aspecto", disse nesta sexta-feira à AFP Gérard Germani, conselheiro político de Celestin.

O partido Pitit Dessalines, de Moise Jean-Charles, foi, inclusive, mais longe e acusou o CEP de corrupção.

"Segundo vários depoimentos, ao redor do hotel que abrigava o CEP na segunda-feira à noite havia veículos com muitos dólares dentro para negociar com os membros (do organismo)", assegurou à AFP o advogado deste partido, Evelt Fanfan.

"A prova é que três (dos nove) membros do CEP se negaram a assinar o documento com o anúncio dos resultados porque não estavam de acordo com esta prática".

O presidente do CEP, Leópold Berlanger, não quis fazer comentários sobre este conflito interno.

Certo de sua vitória, Jovenel Moise se mantém firme diante das críticas de seus principais adversários e das repetidas manifestações de centenas de moradores dos bairros pobres de Porto Príncipe.

Crise política e econômica

"O povo se expressou e agora acredito que seja a hora de nós, meus adversários, começarmos a entender que o país não pode se afundar nesta situação de violência", declarou Moise à AFP.

O primeiro turno da eleição presidencial ocorreu inicialmente em outubro de 2015 e Jovenel Moise já havia vencido. Mas, devido a contestação do resultado e das fraudes em massa, a votação foi anulada.
Como o mandato do presidente Michel Martelly, eleito em 2011, chegava ao fim, o Parlamento escolheu em fevereiro Jocelerme Privert, até então presidente do Senado, como presidente provisório.
Moise considera que já é hora de virar a página: "O país não pode aguentar mais esta eterna campanha presidencial", repete. "Sabemos que ganhamos as eleições no primeiro turno".

Apesar de ter conquistado 55% dos votos, Jovenel Moise não tem uma ampla popularidade no país, já que em 20 de novembro apenas 21% dos eleitores foram às urnas.

A instabilidade política paralisa o desenvolvimento econômico do país mais pobre das Américas, onde mais de 60% dos habitantes vivem com menos de dois dólares por dia. A dívida externa supera os dois bilhões de dólares e, diante da ausência de investimentos públicos e privados, o crescimento está parado em 2%.

Quase sete anos depois do terrível terremoto que matou mais de 200 mil pessoas, em janeiro de 2010, 55 mil haitianos continuam sobrevivendo em acampamentos em condições sobre-humanas, segundo a Organização Internacional de Migrações (OIM).

E a passagem do furacão Matthew, em outubro, voltou a ameaçar as esperanças de uma recuperação econômica.

No sul agrícola, a destruição dos cultivos colocou a nação em uma nova crise humanitária: mais de 800 mil haitianos necessitam de ajuda com urgência, segundo a ONU.

Diante desta situação, os jovens de classe média somente vislumbram sua salvação no exílio nos Estados Unidos: mais de cinco mil haitianos estão atualmente em centros de acolhida da Califórnia e vários milhares chegam ao Brasil e Chile, onde é mais fácil conseguir vistos.

Fonte: G1

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