Paris se prepara para inaugurar o primeiro centro para refugiados

O jovem arquiteto francês, Julien Beller, nos locais do futuro centro de refugiados parisiense.
RFI

30/09/2016

Crise migratória extrema, desmantelamento do campo de refugiados de Calais, discussões na ONU: diante de tais urgências, Paris repensa sua política migratória.

No início do mês de setembro, a prefeita socialista de Paris, Anne Hidalgo, anunciou a criação de dois espaços de recepção transitória de refugiados. O primeiro deles - instalado em uma antiga área industrial no norte de Paris - será inaugurado no mês de outubro e terá capacidade para abrigar 400 homens desacompanhados.

A segunda unidade, que deve ser inaugurada ainda esse ano, está sendo construída em uma antiga fábrica em Ivry-sur-Seine, na região parisiense, e se destina à mulheres, crianças e famílias.

A ideia é que durante um período de 5 a 10 dias, homens, mulheres e crianças refugiadas possam descansar, passar por exames médicos, receber ajuda psicológica e todas as instruções necessárias sobre os direitos de asilo.

O diretor da associação França, Terra de Asilo, Thierry Henry, apoia a iniciativa de Anne Hidalgo e defende a construção de ambos os centros: “Existe uma batalha cultural a ser travada nesse país, no que diz respeito ao abrigo que damos aos refugiados. Eu acho que é indispensável assumir suas posições e explicá-las. A recepção dos refugiados deve ser organizada, pensada, razoável, e é exatamente isso que propõe Anne Hidalgo. Em contrapartida, eu acredito que esse centro só funcionará se ele se insere num ecossistema virtuoso e solidário. O que significa que todas as grandes metrópoles do país devem adotar estruturas semelhantes. Lembrando que atualmente, o alojamento dos refugiados tem sido o campo de Calais (no norte da França) e as ruas parisienses.”

Acupuntura urbana

À frente do projeto está Julien Beller, um jovem arquiteto cuja grande característica é a capacidade de adaptação diante de contextos difíceis. Habituado a trabalhar com populações nômades e precárias, adepto de materiais que podem ser montados e desmontados facilmente, defensor de uma arquitetura efêmera e informal, Julien Beller parece se adequar perfeitamente às ambições da prefeitura de Paris.

“A prefeitura me disse: nós gostaríamos que esse projeto fosse belo, digno, com uma atenção especial ao meio ambiente, com os laços comuns. A ideia não é simplesmente de abrigar as pessoas de modo industrial. Em seguida, eles me colocaram em contato com a associação Emmaüs Solidariedade, que foi designada como a futura gestionária do local. Nós nos encontramos e eles me escolheram como arquiteto desse projeto”, disse, em entrevista à Rádio França Internacional. 

Beller explicou de que forma esse projeto foi imaginado e está sendo construído: "O dispositivo se divide em três polos: o primeiro se chama 'Polo de boas-vindas', ele será instalado numa estrutura inflável realizada por um velho artista e arquiteto, Hans Walter Muller, que desenvolveu esse conceito de estrutura, uma espécie de balão, uma arquitetura viva, que se implanta e se desmonta rapidamente.”

Segundo ele, no segundo polo - instalado em contêineres marítimos - uma equipe médica da ONG Médicos do Mundo, se encarregará dos cuidados médicos e também de auxílio psiquiátrico. O terceiro polo, onde estão sendo construídos os dormitórios de 17 metros quadrados, se divide em 8 pequenos bairros e cada um deles deve abrigar 50 pessoas.

“Eu acho que a palavra chave desse projeto é dignidade. Depois eu diria, orgulho. Nós precisamos nos orgulhar novamente do que nós somos, das nossas cidades e da nossa política migratória em relação a pessoas que batem às nossas portas porque são assassinadas em seus países”, explica Beller.

O custo desse projeto é de €5,2 milhões (R$18,7 milhões)  para a prefeitura da capital francesa e €1,33 milhão (R$ 3,60 milhões) para o Estado.

Fonte: RFI


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