Experiência de Florianópolis pode influenciar alteração no 4º Distrito

Eduardo Costa relatou em seminário experiência na Lagoa da 
Conceição, em Florianópolis - MARCELO G. RIBEIRO/JC

17/08/2016

Isabella Sander

Palestrante no VI Seminário de Gestão Urbana Sustentável, realizado ontem na Assembleia Legislativa, o engenheiro e professor Eduardo Costa considera possível transformar as cidades brasileiras em mais humanas e inteligentes. Para tanto, a meta das prefeituras deve ser projetar os municípios pensando em como estes seriam agradáveis para as crianças. Docente na Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Costa apresentou, durante o evento, sua experiência como diretor do Laboratório de Cidades mais Humanas, Inteligentes e Sustentáveis (LabCHIS), que tem auxiliado os gestores de Florianópolis a qualificar seus bairros.

Jornal do Comércio - Qual experiência do LabCHIS pode ser passada para Porto Alegre?

Eduardo Costa - Nós discutimos os conceitos principais da cidade humana e inteligente. São maneiras de transformar nossas cidades, que estão um caos completo, em cidades mais agradáveis de se viver. Isso tem a ver com tecnologia, mas também com comportamento. Não é só colocar câmeras e centrais de controle, apesar de isso ser importante. Também é preciso trabalhar o comportamento, a atitude das pessoas, a regulação da cidade, o plano diretor municipal, tudo que é importante para tornar a cidade mais habitável.

JC - Como isso está sendo feito em Florianópolis?

Costa - O que estamos fazendo é pegar bairro a bairro e transformar cada um em um espaço mais humano e inteligente. Estamos começando pela Lagoa da Conceição, que já é um bairro interessante, que todos acham muito agradável. O problema é que, hoje, a Lagoa só tem lazer e moradia, ainda não tem trabalho. Então, estamos agora levando trabalho, que depende de regulação, mudança nas regras. Depois, vamos para outros bairros da cidade, até que a cidade toda esteja mais inteligente.

JC - Se o foco for em cada bairro separadamente, não pode haver uma defasagem no primeiro quando se chegar ao último beneficiado?

Costa - O processo é dinâmico. O nome do projeto é "Cidade mais humana, inteligente e sustentável". Isso tem que ser feito o tempo todo. Temos que trabalhar isso continuamente, para que a cidade seja cada vez mais agradável. Há um conceito muito importante, que é pensar a cidade para a criança. Imaginar como a cidade seria, para ser legal para as crianças. Quando ela for legal para as crianças, será legal para todos nós.

JC - De que maneira essa concepção pode ser trazida para Porto Alegre?

Costa - A ideia é, a partir dessa primeira experiência em Florianópolis, pegarmos um bairro de Porto Alegre, provavelmente o 4º Distrito, que é o que está sendo mais estudado atualmente, e aplicar todos os conceitos lá. A partir daí, pode-se espalhar o conceito para a cidade toda.

JC - O projeto tem tido aceitação entre poder público e empresários?

Costa - A repercussão é muito boa, porque, no fim, todo mundo mora na cidade. Então o cidadão não pode ficar contra o governo, a empresa não pode ficar contra o pessoal do meio ambiente. Todo mundo mora na cidade, então temos que melhorar a vida para todos.

JC - É caro implantar a sustentabilidade?

Costa - Tem coisas que são caras, mas os primeiros passos, não. Os primeiros passos dependem muito mais de atitude, de querer fazer diferente. Por exemplo, investir em calçada. Hoje (ontem), eu estava andando por Porto Alegre com uma moça na rua e o salto do sapato dela trancou no meio do piso. Situações assim são muito desagradáveis. Imagina termos boas calçadas? Calçada é algo importantíssimo. É preciso criar espaços de calçada para todo mundo andar a pé e com conforto.

Crescimento demográfico dos anos 1970 gerou sub-habitação

Segundo o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, a inversão do fluxo migratório no Rio Grande do Sul nos anos 1970 levou milhares de pessoas a buscar moradia em médias e grandes cidades, como a capital gaúcha. Na época, mais de 300 vilas populares foram criadas. O crescimento demográfico gerou problemas de sub-habitação envolvendo mobilidade urbana, tratamento de esgoto, água potável, tratamento do lixo, entre outros.

"De lá para cá, a cidade tem procurado construir alternativas para dar conta desses desafios, como grandes obras de saneamento básico, a implantação de coleta seletiva em todas as ruas da Capital e o investimento em ciclovias", cita Fortunati. Exemplo concreto é o 4º Distrito, região industrial de Porto Alegre, cuja revitalização está sendo pensada de forma sustentável pela prefeitura em parceria com universidades, entidades e organizações não governamentais da área.

Lígia Miranda, organizadora do VI Seminário de Gestão Urbana Sustentável e ativista da Associação TodaVida, considera que a sustentabilidade não é cara - pelo contrário. "Conseguimos provar que tendo um prédio sustentável, por exemplo, reduzimos o consumo de energia e de água. Essa ideia de que a sustentabilidade custa muito dinheiro é errada, pois, na verdade, se trata de usar todos os recursos muito bem. É mais barato ser sustentável do que não ser", observa.
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